Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

Ana Carolina, literária
Publicado em 27/03/2017

Imagem da notícia

Cantora mineira, uma das mais célebres da nossa música, lança EP em que declama poemas seus, enquanto reflete sobre as artes e o papel da mulher na nossa cultura

Por Fabiane Pereira, do Rio

Celebrando sua primeira incursão na literatura, a cantora Ana Carolina lança um EP em que declama uma seleção de quatro poemas de sua autoria. Extraídos do recém-lançado livro “Ruído Branco”, alguns trechos ganharão também lyric vídeos, ilustrando os versos interpretados pela voz por trás de hits como “Garganta” e “Pra Rua Me Levar”. 

O público já pode conferir uma amostra do trabalho com o vídeo “Som”, disponível no canal Vevo da cantora. O EP homônimo ao livro ainda inclui as obras “A Pele”, “Velho Piano” e “Qual É”. Com prefácio assinado pelo poeta, cronista e jornalista Fabrício Carpinejar, “Ruído Branco” (ed. Planeta) chegou às livrarias em janeiro com fotos de Nelson Farias e uma série de poemas, memórias e histórias reais contadas em prosa poética, além de pinturas e letras inéditas. 

“Recebi o convite para escrever um livro de poesia urbana e, quando apresentei o que tinha produzido ao longo da vida aos editores, descobri que tínhamos material para essa que é minha primeira incursão no mundo literário, de onde sempre busquei inspiração e conforto para a alma”, conta a cantora mineira, uma das  mais populares do Brasil e que, em quase 20 anos de carreira, vendeu mais de cinco milhões de discos, acumulando prêmios nacionais e internacionais.

Conversamos com a artista, que contou já pensar num próximo livro, além de comentar seu processo criativo e o seu papel como mulher criadora numa sociedade ainda profundamente machista.

 

Quando surgiu a ideia de lançar um livro? Ficou muito material de fora desta sua primeira empreitada literária?

Ana Carolina: Foi um pedido da editora. Eu escrevo textos há muito tempo. Carrego caderninhos e escrevo neles minhas impressões sobre os lugares, as pessoas e as cidades por que passo. Isso sem falar que registro as viagens com vídeos e fotos que nem sempre posto em redes sociais. Nessa época em que as pessoas públicas devem estar mostrando suas vidas, o tempo inteiro para angariar seguidores, eu posto aquilo de que estou a fim, e quando estou a fim. Por isso tenho tanta coisa inédita guardada e continuo tendo. Acho que estou guardando para um próximo livro.

 

Como as criações em diferentes formas de arte contribuem para você se expressar?

Se o artista está vivo e fluindo à sua maneira, por que não experimentar outras formas? Eu gosto de escrever, pintar, gravar e editar vídeos, compor, tocar e cantar. É assim que eu me viro na vida. E para fazer aquilo de que gosto, leio muito, viajo e já viajei bastante, já vi mais de dois mil filmes (adoro listas!)... Tudo que vi e escutei nessa jornada de 42 anos me ajudou, e muito, a sublimar questões novas e antigas da minha vida. Quem escreve tem que ler, quem canta tem que ouvir, e assim por diante.

 

Você vai lançar ainda este mês um EP baseado no livro. Transportar um conteúdo literário para os palcos foi difícil?

Fiz o livro, e o EP saiu com quatro poesias musicadas. O show “Ruído Branco” foi feito radicalmente em cima do livro. Só canto músicas que trazem significado às poesias e aos textos.  O show foi criado dentro da loucura do livro que, por escolha minha, fiz radical, aberto, contando tudo, fiz sem cortes e sem medo. E o show ficou intenso como eu queria.

 

Você se expõe mais na poesia do que como compositora? Ou são exposições diferentes?

Essa pergunta é muito apropriada. Em prosa poética, tudo fica mais fácil de dizer. Não há melodia para encaixar letra. O texto sai livre, sem margens. Não consigo escrever por escrever. Quando me vi escrevendo, tudo saía por algum motivo, por alguma razão, fosse um desabafo, fosse algo sobre o amor. Escrevo também para dar forma ao que sinto e, principalmente, aos sentimentos sem nome. Fui do amor ao suicídio, da dor de viver ao orgasmo.

 

Estamos terminando um mês de reflexão sobre o papel feminino no nosso mundo. No Brasil, quais as maiores dificuldades em ser mulher e artista?

O machismo, a misoginia, o preconceito... Sinto que lutaremos contra tudo isso eternamente. Enquanto as meninas pequenas forem ensinadas a se portar como princesinhas vestidas de rosa esperando o príncipe encantado, enquanto as meninas, por força do sistema, tiverem que corresponder à imagem frágil de fêmea desprotegida, existirá um fio ligando os homens ao patriarcado e ao machismo, disfarçando-os de protetores sem ocultar que, no fundo, não passam de opressores. A maioria dos homens ainda desconsidera as experiências femininas em favor do ponto de vista masculino. Infelizmente. E o que mais me assusta é ver que a maioria dos casais cria seus filhos dentro da ideia do machismo sem perceber.

 


 

 



Voltar