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Publicado em 24/07/2017

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Produtores experientes, entre eles o lendário Liminha, dão dicas para quem quer se aventurar na produção, um mundo cheio de dores e delícias

Por Kamille Viola, do Rio

Com o acesso à tecnologia, dar os primeiros passos para tornar-se um produtor musical é muito mais fácil do que há alguns anos. A grande quantidade de informação que existe hoje na internet torna possível aprender sozinho. Mas qual a melhor forma de aproveitar todas as ferramentas que existem hoje? Conversamos com importantes produtores musicais brasileiros para ajudar a quem quer se aventurar por esse maravilhoso (e trabalhoso) mundo.

"O processo de produção está muito democrático", afirma Umberto Tavares, associado da UBC e produtor de álbuns de artistas como Anitta, Ludmilla, Belo, Nego do Borel e Buchecha, entre outros. No entanto, ele frisa, é preciso muita responsabilidade na função. "A gente contribui para mudar vidas, não só as nossas, como as de artistas, e isso é muito sério, né? Tem que respeitar muito o sonho do outro. Porque uma música não é apenas uma música, por trás dela tem o sonho de várias pessoas, principalmente do artista que está interpretando. Então, a gente tem que levar isso muito a sério", frisa.

O lendário Liminha, que foi baixista dos Mutantes e produziu de Jorge Ben Jor a Caetano Veloso, de Gilberto Gil a Paralamas do Sucesso, passando por Lulu Santos, Erasmo Carlos e Chico Science e Nação Zumbi, entre muitos outros, concorda. "É preciso sempre tomar o maior cuidado. Uma música é um filho. Tem que ser levada a sério, fazer bem feito", comenta.


1) Esteja pronto para trabalhar muito

Essa parece óbvia, mas a produção de uma única música pode levar meses. "É preciso entender que é um mundo de muita abnegação. Não é glamour. Uma faixa de quatro minutos, que o público escuta e logo sentencia se é boa ou se é ruim, demora às vezes meses pra ficar pronta. É um processo de faz e desfaz para encontrar a melhor letra, a melhor frase e a melhor sonoridade, no caso da produção", explica Umberto Tavares.


2) Ouça muita música

Umberto Tavares tem toda uma rotina para ficar por dentro do que anda sendo feito no mercado. "Mas é preciso ouvir tudo o tempo todo, cada dia mais. Principalmente em plataformas como Spotify, Apple Music, Deezer, YouTube - que é o veículo mais democrático para os ouvintes no Brasil, embora não remunere os autores. Algumas delas te indicam coisas relacionadas ao que você gosta, a gente já descobriu bastante coisa interessante assim. E você pode também entrar em canais específicos: quer saber sobre funk, vai no canal do Kondzilla no YouTube. Quer ver os artistas internacionais, vai nos principais deles", ensina. "Todo dia, eu acordo e vou escutar o Top 200 do Spotify. Quando saiu o último disco da Beyoncé, acordei 7h da manhã e corri para ouvir. Cheguei ao Spotify e não tinha, porque o Jay-Z (marido da cantora) é dono do Tidal (plataforma concorrente), aí comprei inteiro no iTunes para poder ouvir. Eu vivo assim", conta.


3) Treine reproduzindo o que outros produtores estão fazendo

Tentar reproduzir o que outros profissionais estão fazendo é uma forma de treino para quem está começando. "Procure entender como é que o cara tira aquele som, como arruma aquele peso, quais são os instrumentos que ele usa... Tem que estudar. Eu vivo num processo constante de estudo", explica Umberto Tavares. "Você pode buscar ir fazendo igual [a outros produtores]. Quando tiver a sensibilidade de dizer 'cheguei próximo', aí estará pronto para tentar uma inédita", acredita.

 

¿4) Aproveite os vídeos e tutoriais online para aprender

A internet tem bastante informação para quem quer aprender sozinho. "Hoje em dia, você tem milhões de ferramentas online que podem esclarecer inúmeras dúvidas, a pessoa pode acabar sendo autodidata em algum software específico. Não só o YouTube, como blogs de áudio, fóruns, sites independentes e das próprias marcas fabricantes de áudio. Existem vídeos de mixagens, de pessoas da revista “Sound on Sound” ou da “Music Technology” no YouTube em que os caras mixam uma música inteira e você fica assistindo ao processo. É uma forma de você aprender, assistindo ao que eles estão fazendo e ouvindo também", dá a dica Carol Monte, produtora de discos de nomes como Délcio Carvalho, Lan-Lan e edições de áudio no DVD "Verdade, Uma Ilusão", de Marisa Monte.


5)  Não se apegue à ideia de ter a ferramenta ideal para começar

"Hoje em dia, qualquer pessoa que tenha determinação e um mínimo conhecimento de audição, que tenha ouvido muita música, pode produzir, então não se apegue a nenhuma ferramenta específica de trabalho, na lógica 'só vou produzir se eu tiver um Protools ou um Logic (softwares) ou computador'. Na verdade, hoje em dia muitas pessoas fazem discos no iPhone, no celular, em aplicativos gratuitos. O resultado não vem do que você tem, mas do que você faz com a ferramenta que você tem", garante Carol. Umberto concorda. "Hoje em dia é muito democrático, você pode trabalhar com tantos programas, são tantas as possibilidades", garante ele, que cita o FruitLoops como exemplo de software gratuito para iniciar a produção musical.

 

6) Não fique buscando a perfeição o tempo todo

"Existem muitos produtores que ficam fixados na tela de um computador e ficam corrigindo pela imagem; se tem um beat que está um pouquinho fora, eles 'corrigem'. A música acaba ficando extremamente robótica quando não tem que ser", desabafa Liminha. "É preciso ter discernimento. Os Rolling Stones, por exemplo: se você pegar um track e 'arrumar', quantizar a bateria do Charlie Watts, eles não vão ser mais os Stones. É importante fazer as coisas mais musicais", defende

 

7) Dê descanso ao ouvido e confie nele acima de tudo

Carol Monte conta que um erro muito comum é trabalhar durante muito tempo seguido, por mais de três horas sem pausa, e ficar com o ouvido cansado. "Aí a pessoa começa a seguir regras de mixagem visuais: 'Ah, baixa essa frequência do baixo, porque eu sempre faço isso.' Ela começa a não escutar. Então sugiro nunca se apegar a uma regra ou ficar olhando o computador e fazendo o que você está vendo. A única ferramenta para música que você tem para avaliar o resultado final é o seu próprio ouvido. Não importa o que você esteja fazendo: se está soando bem, está bom. Se está soando ruim, está ruim. Não adianta você olhar uma wave no computador e achar que ela não está distorcendo, se no ouvido ela está distorcendo. Você vai acreditar em quem: no visual ou no seu ouvido? Acredite sempre no ouvido, que é a sua referência de estudo", defende ela.

 

9) Seja original

Para Liminha, o que mais a música precisa hoje é de originalidade. "As pessoas estão trabalhando muito com referência, ninguém acaba criando nada. Você coloca balizas, limites. É importante arriscar, porque lidar com arte é lidar com o desconhecido. A minha dica é que também se esforcem pra criar alguma coisa original, para não ficar só fazendo o que já foi feito. Quem corre atrás nunca está na frente", argumenta.

 


 

 



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