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Os 'feats' invadem a festa
Publicado em 23/08/2017

Artistas de estilos bem diferentes se juntam para ganhar mais espaço — aqui e lá fora

Por Roberto de Oliveira, do Rio


O produtor DJ Batata apostou em parceria com artistas como Mr. Catra

Cada vez mais presentes no mercado brasileiro de música, as participações especiais, essas que vêm com a legenda feat, ft. ou featuring (“com participação de”, em inglês) no videoclipe ou no encarte do CD, são a nova tendência do pop brasileiro, seguindo uma tendência gringa. A estratégia é um trunfo para atrair espectadores de tribos diversas, que assimilam com extrema facilidade as junções de seus ídolos com artistas convidados.

A onda começou nos Estados Unidos, sobretudo com os rappers que, desde o final dos anos 1990, fazem participações especiais, principalmente com as chamadas divas (Beyoncé, Mariah Carey, Rihanna, Madonna, escolha a sua). Como o rap é a música mais ouvida do mundo, chamar um MC para participar de uma faixa quase sempre dá bom.

Por aqui, a mania chegou com tudo. Há na internet features de funkeiros com sertanejos e pagodeiros, rappers com cantoras e bandas pop, roqueiros com sertanejos e além, mostrando que gravadoras e produtores brasileiros apostam nessa estratégia para sobreviver nesse modelo de mercado. “São a grande tendência da música hoje. Aposto neles, em pegar artistas de estilos variados, e misturar essas sonoridades: o ponto forte de um e o ponto forte do outro, o público de um e o do outro”, diz um dos maiores produtores do país, Umberto Tavares, corresponsável pelo salto de Anitta do universo do funk para o pop, movido a muitos feats, claro.


Para consolidar de vez a carreira, a diva de “Paradinha”, “Show das Poderosas” e “Meiga e Abusada” de fato joga nas onze quando o assunto é participação especial. Ela não só convida “novos” talentos (Pabllo Vittar, Jhama e Projota) como também participa de clipes com Nego do Borel e Simone e Simaria, além de interagir com artistas internacionais (Maluma e Iggy Azalea) em seu plano de se tornar uma estrela global.  

Lembra quando o RUN DMC colocou rap na empada do Aerosmith com “Walk This Way”?  Os resultados foram ótimos para os dois lados: a música explodiu, chegando ao topo da parada Billboard naquele ano, o rap foi lançado para fora do gueto, e os dois grupos ganharam novos fãs e colocaram as carreira nos trilhos, sem contar que os públicos roqueiro e rapper passaram a se olhar com menos preconceito.

É nessa lógica que o sucesso “Despacito”, do porto-riquenho Luis Fonsi, amplia ainda mais seu alcance. A canção já tinha a participação de um rapper (Daddy Yankee), mas, com a chegada do remix em que o novo “rei do pop” Justin Bieber canta em inglês e espanhol, a música ultrapassou as barreiras da língua e é um dos maiores hits globais do momento. Juntas, as duas versões (com e sem Bieber) têm quase 4 bilhões (sim, com b) de visualizações no canal oficial de Fonsi.

A globalização e a curiosidade de quem procura novidades a cada instante também contribuem para que gerações e estilos se misturem nos feats. É o caso da roqueira Pitty com a sambista Elza Soares em “Na Pele”. Só misturando mesmo para ver o que vai dar. Depois de um momento ultrassegmentado da música na era digital, a lógica do tudo junto e misturado parece ter voltado com força: “A fusão de estilos vai ser o grande 'boom'. A gente faz muitas músicas que são funks e têm momentos que são outra coisa, como hip hop, reggaeton...”, analisa Umberto Tavares.

 


Outro nome que veio do universo do funk carioca, o DJ Batata lança no próximo mês um EP com featurings em todas as faixas. Ele diz que as participações estão pegando no Brasil porque, com tantas opções nas prateleiras (digitais), as músicas começam a ficar descartáveis, e acaba sendo uma boa ideia chamar outro artista para dividir os holofotes: “Dá certo porque é uma junção! Hoje é muito difícil emplacar, e a galera está se ajudando”. No caso dele, as participações também tiveram uma outra função: apresentá-lo a um novo público e tirá-lo do anonimato. “Era um sonho gravar com os artistas que convidei (como Mr. Catra). Já produzi alguns, e isso ajuda a destacar o meu trabalho, pois o produtor, que é um importante agente no processo musical, geralmente é esquecido”, diz Batata. Não no caso dessas junções, arquitetadas por grandes produtores e que, a julgar pela onda de misturas na música brasileira e mundial, parece ter vindo para ficar.





 


 

 



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