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No Dia da África, uma ponte musical e afetiva entre o Brasil e o continente negro
Publicado em 25/05/2018

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Brasileiros que tentam uma inserção no continente falam sobre as inspirações que trazem de lá 

Por Kamille Viola, do Rio 

Em 25 de maio, comemora-se o Dia da África, porque foi neste dia, em 1963, que se criou a Organização de Unidade Africana (OUA), na Etiópia, com o objetivo de defender e emancipar o continente africano. A data é um bom mootivo para celebrar a influência africana na cultura brasileira, que é vasta e diversa. 

Apesar disso, porém, pouco se sabe no Brasil sobre continente, o terceiro maior do mundo e o segundo mais populoso. E, a despeito de sua enorme população (mais de 1,2 bilhão de pessoas) e do interesse pela música brasileira, impulsionada também pelo sucesso das nossas novelas, a arrecadação de direitos para o Brasil é a menor entre os territórios estrangeiros: apenas 0,2% do total arrecadado no exterior são provenientes do continente.

"Isso se explica porque muitos não têm ainda uma estrutura de arrecadação e distribuição, e mesmo os que a têm ainda não estão num nível de desenvolvimento que resulte numa arrecadação significativa. Isso impacta na distribuição", comenta Peter Strauss, gerente de Relações Internacionais, Distribuição e Licenciamento da UBC. "A exceção é a África do Sul, que tem regras alinhadas à Cisac (Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores)", diz.

Mas a perspectiva é que esse panorama mude nos próximos anos. "O que estamos observando de um tempo para cá é que a própria Cisac está querendo investir mais na região, está fazendo um investimento significativo em treinamento, capacitação de equipes, tecnologia. A próxima década vai ser importante para desenvolver essa área lá. Para o Brasil, isso é ótimo, porque o repertório daqui toca lá, principalmente nos países lusófonos", acredita.

Para o cantor, compositor e violonista baiano Tiganá Santana (foto), a troca cultural entre o Brasil e os países africanos pode impulsionar esses mercados. Ele fez uma residência artística no Senegal entre 2013 e 2014, que resultou na gravação do disco "Tempo & Magma", lançado em 2015. O trabalho traz composições nos idiomas africanos kikongo, kibundo, wolof e mandinka, além de português e inglês, e conta com participação de músicos africanos. Santana percebeu uma grande abertura à nossa música por lá. "Eles conseguiriam identificar muitos pontos em comum em relação às nossas manifestações musicais, e há também refluxo contemporâneo da cultura brasileira", diz, referindo-se ao interesse por artistas e novelas do Brasil no continente. "É sabido que muitas civilizações africanas tradicionais são civilizações de trocas. Essa nunca foi uma coisa estranha ao continente africano, o que não implica enfraquecimento da própria cultura: implica atingir um nível de associações mais rico", analisa.

Mart'nália também sentiu a receptividade nos países africanos. A ligação com Angola ela, de certa forma, herdou do pai, o cantor Martinho da Vila, que tem uma antiga relação com o lugar, desde o início dos anos 1970. As primeiras idas, como integrante da banda de Martinho, a levaram a se apresentar em carreira solo por lá e a registrar o CD e DVD "Mart'nália em África Ao Vivo", de 2010, gravado em Luanda e também em Maputo, em Moçambique. 

“A África é um lugar a que vou desde quando comecei a cantar com meu pai. Tenho um carinho muito grande por lá", comentou a cantora à época. "É como ir à casa de uma avó, uma tia. Você batuca, conversa e canta." O trabalho inclui um documentário no qual ela conta sua relação com a África e que traz imagens dos dois países e participações do escritor moçambicano Mia Couto, a cantora cabo-verdiana Mayra Andrade, além dos brasileiros Chico Buarque, Martinho da Vila, Gilberto Gil e Regina Casé.

Para Tiganá Santana, que também fez shows em Cabo Verde, em 2016, dentro do festival Atlantic Expomusic (que reúne artistas da África e de todo o Atlântico), e viajou por outros países de lá, é importante ir conquistar esses públicos in loco. "Cabe fazer essa reflexão: acho que algumas pessoas não têm tanto essa inclinação para ir ao continente africano, inclusive artistas que supostamente teriam uma cabeça mais aberta. Porque é uma questão da segregação de base, está na estrutura; o continente africano é sempre associado à precariedade, e não é bem assim. Mesmo com todas as dificuldades, que a gente sabe que decorrem do imperialismo dos países europeus — que, se hoje desfrutam de algumas facilidades, foi à custa da exploração de civilizações mais antigas —, é importante que as pessoas do lado de cá quebrem essa ideia. É fundamental que a gente faça esse movimento para o continente africano", defende.


 

 



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