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Três bandas e artistas que estão renovando o forró
Publicado em 04/06/2018

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É tempo de festas juninas e, portanto, de celebrar os ritmos nordestinos que conquistaram o país. As bandas Fulô de Mandacuru (PE) e Os Gonzagas (PB) e a cantora Mariana Aydar (SP) falam sobre seu envolvimento com essa tradição

Por Fabiane Pereira, do Rio

Junho. Mês das festas juninas. E não há festa sem música. O forró é o gênero que embala as celebrações dos três santos católicos - Antônio, João e Pedro - considerados padroeiros das festas espalhadas pelo Brasil, nesta época do ano. Apesar de muitos eventos misturarem em suas trilhas sonoras e line-ups gêneros como sertanejo, funk, pop, pagode e até DJs de música eletrônica, o forró segue soberano, promovendo a tradição representada por Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Elba Ramalho, Alceu Valença e tantos outros grandes mestres, que vêm ganhando a companhia de artistas renovadores da cena, como a cantora Mariana Aydar e as bandas Fulô de Mandacaru Os Gonzagas

Fulô de Mandacaru (foto)

Pingo Barros, da banda Fulô de Mandacaru, relembra que faz parte da quarta geração de músicos da família. "Meu bisavô era poeta, meu avô, sanfoneiro, e meu pai é poeta e cantor. Fui criado ouvindo os grandes nomes do forró desde muito pequeno, e também convivi, junto do meu pai, nos palcos com alguns desses mestres do forró", diz.

A banda surgiu em 2001 e, na época, Pingo Barros tinha apenas 10 anos, e Armandinho do Acordeon tinha 15 anos. A dupla e Diego César, ex-integrante da banda, começaram tocando no São João de Caruaru (PE) e em festas de amigos, o que já lhes garantiu um público forrozeiro fiel. Três anos depois, já em 2004, subiram ao palco principal do São João de Caruaru, abrindo as festividades oficiais. Dali em diante, começaram a se apresentar em todo o Nordeste.

Com 16 anos de estrada, sete CDs e três DVDs lançados, a Banda Fulô de Mandacaru passou por vários palcos e festivais importantes ao longo de sua carreira, com a mesma autenticidade. Em 2016, vieram a grande consagração e o sucesso nacional, com o título de Campeã do Programa "Superstar", da TV Globo, além de um contrato com a gravadora Som Livre, emplacando três sucessos nas rádios e TVs: "Fulô de Mandacaru Chegou", "São João de Outrora" e "Só o Mie". 

Para Pingo, o forró vai "de vento em popa". "A herança do Rei do Baião cresce mais e mais a cada dia. Não só no Brasilm mas em todo o mundo. Na Europa, por exemplo, existem mais de 50 festivais de forró durante o ano", conta, animado. 

Um grande diferencial da Banda Fulô de Mandacaru são as parcerias e os projetos desenvolvidos ao longo dos anos. Eles tocam um trabalho educativo e cultural em escolas, hospitais e até presídios com o objetivo de conscientização e socialização através da cultura popular. Deixariam Gonzagão e companhia bem orgulhosos.

Os Gonzagas

Zé Neto, vocalista da banda Os Gonzagas, também foi fisgado pelo gênero através das canções de Luiz Gonzaga. "O forró entrou na minha vida escutando discos de Gonzaga e Alceu Valença quando criança e, mais adiante, quando comecei a tocar em barzinhos", conta. Já Yuri Gonzaga, outro integrante da banda, tem uma história interessante. "O forró entrou na minha vida pelo incentivo do meu pai, por ele gostar muito de Luiz Gonzaga e ter sido batizado com o mesmo nome do Rei do Baião. Aí, desde cedo, ouvia as músicas de Gonzagão ao lado dos meus irmãos. Até que decidimos montar uma banda de forró. Por sermos filhos de Luiz Gonzaga [da Costa], todos nos chamavam de Gonzagas ou Gonzaguinhas e foi a partir daí que surgiu a ideia de nomear a banda de Os Gonzagas", explica.

"Na Europa, tivemos a oportunidade de ver como o forró ganhou o mundo", diz Carlos Henrique, d'Os Gonzagas

Os primeiros integrantes d'Os Gonzagas eram irmãos e primos, todos da família Costa, de Itaporanga, cidade do sertão da Paraíba. Eles começaram a se apresentar nas festas de família, e, com o tempo, alguns amigos começaram a fazer parte da banda, tornando o processo mais profissional. Formada por oito músicos - Yuri Gonzaga (sanfona e voz), Zé Neto (violão e voz), Maria Kamila (voz e percussão), Hugo Leonardo (baixo), Carlos Henrique (sanfona), Caio Bruno (bateria), Léo Santos (zabumba, percussão e efeitos eletrônicos) e Jefferson Britto (guitarra) - que misturam vários instrumentos, a banda garante que a identidade d'Os Gonzagas é o forró.

"Ganhamos, em 2013, o Fenfit (Festival Forró de Itaúnas), no Espírito Santo, como melhor banda e melhor letra. A partir desse prêmio, fizemos nossa primeira turnê na Europa (Londres, Dublin e Lisboa). Lá tivemos a oportunidade de ver como o forró ganhou o mundo. Em 2014, veio nosso primeiro álbum, 'O candeeiro não se apagou'. Depois, em 2015, participamos do Superstar, programa da Rede Globo, que nos projetou nacionalmente. Em 2017, fizemos nossa segunda turnê pela Europa e, agora em 2018, lançamos nosso CD, chamado "Onde estará?", comenta o sanfoneiro Carlos Henrique.

"O forró sempre exerceu uma importância no cenário musical brasileiro desde seu surgimento. Em todo canto se dança forró. No exterior, ele é muito difundido. Da mesma forma que existe o forró centrado no trio sanfona, zabumba e triângulo, existem pessoas que exploram outras sonoridades, acrescentando ao estilo formas inovadoras sem deixar de lado sua origem, sua célula rítmica e sua identidade", explica Zé Neto.

"Quando se colocam elementos eletrônicos no forró, por mais que se esteja modificando o som, algo precisa ser preservado para que ele continue sendo forró. E eu acredito que a questão rítmica aí é fundamental para essa compreensão. Existe um grupo que resiste e busca preservar o forró na sua essência, sem abrir espaço para outras sonoridades. Existem grupos que reconhecem o forró como uma cultura popular importante, porém tentam aproximá-lo do público jovem através de novos elementos e com uma linguagem que chegue às pessoas atualmente. Os Gonzagas estão aí, fazendo esse papel. E temos os grupos que movimentam a grande massa, com ritmos derivados do forró, com mensagens que as pessoas se identificam e por isso se tornam tão populares. Para todas as formas de forró, existe mercado, mas este poderia ser mais justo na divulgação", analisa Maria Kamila, outra integrante da banda.

Mariana Aydar

Mariana Aydar é forrozeira desde criança. Sua mãe, Bia Aydar, começou a trabalhar com Luiz Gonzaga quando a cantora tinha apenas seis anos. "Eu ouvia muitos discos do Gonzaga na minha casa e fui me apaixonando por sua obra. Quando começou o boom do forró em São Paulo, eu ia (às festas) para dançar, mas comecei a cantar profissionalmente também nesta época, quando fazia backing vocal do Miltinho Edilberto e, depois, com a Banda Caruá", relembra. 

Em todos os discos de Mariana há forró e xotes, embora seus álbuns não sejam considerados de música regional. "Gravei forró e xotes em todos os meus discos, mas há aproximadamente dois anos começaram a me chamar para fazer apresentações nas festas de São João. Eu passei a me divertir tanto, tanto, tanto, que voltou a alegria de cantar e dançar aquele tipo de música, estar no meio de algo que sempre foi muito meu, em que eu resolvi mergulhar de cabeça. O forró me ensinou e me ensina muito, além de já ter me dado muita coisa na vida, como minha filha, pois conheci o Duani, pai da Brisa e vocalista da banda Forroçacana, no forró", conta.

Mariana ainda acha que há muito preconceito com o gênero. "Acho que, em geral, o forró sempre foi meio marginalizado", diz. Mas ela concorda que o ritmo contagiante de zabumba, sanfona e triângulo conquistam logo de cara. "Uma pessoa que vai ao forró com certo preconceito é logo contagiada pelo som. É legal ver esse movimento da pessoa chegando meio desavisada e ser embalada pelo espírito da música. Acho que o forró, assim como o samba, é um espécie de espírito a que você se conecta."

Devota de Dominguinhos, Mariana dirigiu ao lado de Eduardo Nazarin e Joaquim Castro, o documentário "Dominguinhos", sobre a vida e obra do artista, que é um dos maiores mestres da música popular brasileira. "Dominguinhos inventou o jeito dele de fazer forró, de harmonizar, compor e improvisar. Nunca vi uma genialidade tão linda na minha frente. E, com todas essas qualidades, ele ainda era a pessoa mais humilde e generosa que já conheci", finaliza.

VEJA MAIS: Mariana e Dominguinhos cantam juntos

 

 


 

 



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