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O folk ‘afrofuturista’ do Tuyo
Publicado em 27/03/2019

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Trio paranaense faz sucesso com melodias suaves e letras densas; lançado na sexta (22), remix de single deles aposta em pegada dançante

Por Kamille Viola, do Rio

Foto de Luciano Meirelles

Formada pela irmãs Lio e Lay Soares e Jean Machado (que namora Lio), a banda paranaense Tuyo tem visto sua popularidade crescer desde o lançamento do disco “Pra Curar”, em dezembro de 2018. A irmãs ganharam notoriedade ao participar do reality ‘The Voice’ em 2016, usando seus nomes, Lílian e Layane, mas os três já estão juntos em projetos musicais há 11 anos, desde que integraram a banda Simonami. Em 2017, lançaram o EP “Pra Doer”, que chamou atenção. Mas 2018 foi o ano da virada, em que o grupo viajou pelo país com seu show, viu o número de seguidores nas redes sociais aumentar e chamou a atenção de outros artistas, como Baco Exu do Blues, que os chamou para participar do álbum “Blvesman”. Após lançar na última sexta-feira (22) um remix dançante feito pelo paraense Lucas Estrela para a faixa “Solamento”, o trio promete muitos feats e clipes para 2019, enquanto compõe para o próximo álbum.

VEJA MAIS: O clipe de “Solamento”

Com um mistura de folk e soul com efeitos eletrônicos, Lay, de 25 anos, Lio, 32, e Jean, 27, vêm conquistando o público com canções em que a delicadeza das melodias contrasta com as letras densas e doloridas, resultado das experiências pessoais dos integrantes.

“Nós somos três cabecinhas que sempre pensaram muito no enfrentamento das coisas para elaborar nossas tretas. A gente nunca acreditou muito naquilo de ‘Ah, levanta a cabeça e segue em frente’, e os finais felizes. A gente sempre foi de ‘vamos enfrentar as coisas e elaborar, vomitar os demônios e entender o que está acontecendo com a gente’”, explica Lay. “Acho que ‘Pra Doer’ e ‘Pra Curar’ vieram muito nessa linha: existe muito trauma, muita ferida aberta, coisas que a gente tem que cuidar. E eu acho que, acima de tudo, a nossa saúde mental e emocional é uma parada que está muito latente hoje. E a gente tem visto muitos estragos por aí. Nós precisávamos muito vomitar essas coisas, partiu muito de nós. E o resto foi muito consequência”, acredita ela.

Apesar dos anos de estrada na música e na dedicação do ano passado para cá, quando decidiram largar seus antigos empregos para focar no trio, ela conta que eles ainda se surpreendem com toda a repercussão positiva. “Foi um ano de escolher mesmo: ‘É isso que a gente quer fazer? Então vamos nos debruçar nisso e trabalhar para as coisas acontecerem de alguma forma.’ O jeito como está repercutindo está sendo muito bonito de ver, sabe? O resultado disso, de irmos encontrar os públicos que a gente só alimentava pela internet. A internet deu muita ajuda para a gente, né? Porque é o lugar onde você pode botar o seu trabalho tranquilo, produzir suas próprias coisas, divulgar do seu jeito, ainda mais para banda independente, isso é muito importante”, analisa. “Mas a gente levou um sustinho… Poxa, de ir para o Nordeste e ver que a galera cantava as músicas, de ver que o nosso som chegou a lugares que a gente não imaginava”, admite ela.

O EP “Pra Doer” e o álbum “Pra Curar” traziam músicas que já existiam há algum tempo e faziam parte dos shows do trio. Um território confortável, de certa forma. Para os próximos trabalhos, o Tuyo vai passar por uma situação nova: mostrar músicas ainda desconhecidas de seus fãs. “Agora é que é o desafio, porque vai ser a parte em que a gente vai partir muito do zero, muito do novo, muitas coisas que a galera não ouve em show”, ela analisa.

"O que a gente faz não é novidade, a gente não está inventando a roda do pop, mas são lugares onde é muito difícil encontrar gente negra no Brasil."

Lay, vocalista

O remix de “Solamento”, registrada originalmente no EP, é a primeira das muitas colaborações que o grupo pretende lançar este ano. Baco Exu do Blues, com quem gravaram “Flamingos” no disco dele, também está nos planos do Tuyo. “Ele agora está em turnê, é complicado. Mas a gente está com planinhos de não deixar essa parceria se perder por aí, com certeza. A gente é muito fã. Se ele puder, nossa, com certeza a gente vai querer fazer uma parada junto”, torce a cantora.

O som do grupo vem sendo chamado de “folk afrofuturista", o que, para Lay, é uma novidade que ela celebra ao mesmo tempo em que tenta não prender o Tuyo a rótulos. “A gente tem essa mania e essa necessidade de organizar as coisas em caixinhas. E eu sei a importância disso. Eu acho muito bonito ver que o pessoal olhou para nós e nos colocou nesse viés. Porque, querendo ou não, nós somos três pretos cantando. É muito doido, porque os corpos negros a gente vê em lugares que já são meio que tachados: a negra do samba, o negro do rap... E a gente poder sair disso e explorar coisas é o tal do afrofuturismo, estar em lugares e espaços que a gente nunca esteve, que eram lugares brancos. A Tuyo nunca viu a necessidade de levantar bandeira nenhuma, porque o fato de sermos três pretos já diz muita coisa sobre nós. E existem outras bandas que estão nessa linha de frente e a gente admira muito, que são muito mais políticas na poesia e no posicionamento. O que a gente faz não é novidade, a gente não está inventando a roda do pop, mas são lugares onde é muito difícil encontrar gente negra no Brasil”, explica a vocalista.


 

 



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