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5 dicas para criar videoclipes durante a pandemia
Publicado em 28/05/2021

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Incorporar a estética “tosca” das videochamadas é tendência; veja experiências de Juliana Linhares (foto) e outros artistas

Por Fabiane Pereira, do Rio

A pandemia levou muitos artistas a adiarem seus lançamentos e interromperem por completo sua agenda de shows. Mas isso não significa, nem de longe, que a criatividade acabou. Adaptando-se às mudanças, músicos têm encontrado inspirações em suas próprias casas para produzir videoclipes. Se, em alguns casos, o produto final perde em qualidade de imagem e produção, não resta dúvida de que ganha em originalidade.

A cantora e compositora potiguar Juliana Linhares lançou no mês passado seu primeiro registro solo, “Nordeste Ficção”. Junto com o single que puxou o álbum, Juliana apresentou o clipe da música “Meu Amor Afinal de Contas”, com participação de Zeca Baleiro. Cada um filmou de um local, Juliana no Rio, Zeca em São Paulo. “Gravamos o clipe numa casa em Santa Teresa (Rio) e éramos apenas nove pessoas na equipe. O Zeca gravou na casa dele com o celular dele. Entre um take e outro, eu colocava e tirava a máscara, obviamente todos que participaram da gravação permaneceram de máscara o tempo todo. A casa era arejada, e gravamos tudo em três dias para minimizar os riscos. Todas as reuniões de produção foram feitas online. No dia da gravação, a gente limpava todos os cantos, passava álcool em tudo, e todos estávamos testados”, conta.

VEJA MAIS: O clipe de "Meu Amor Afinal de Contas"

Edi Rock, Chico Cesar e Gloria Groove foram outros nomes que lançaram videoclipes durante a pandemia. Todos usaram e abusaram dos recursos tecnológicos. As imagens que aparecem no clipe da música “Vidas Negras Importam”, de Edi, foram gravadas em sua casa, com o celular do artista. Já o paraibano Chico César optou por gravar as imagens do clipe “Sobre-Humano” à distância e contou com a presença de vários músicos de forma totalmente remota. A cantora Gloria Groove acumulou funções de diretora, maquiadora e roteirista no videoclipe da música “Incondicional”.

Conversamos com um videomaker, Vitor Souza Lima, para reunir conselhos de produção sob condições tão especiais como as que estamos vivendo. Veja o que ele nos contou.

1. Explore a ‘precariedade’: estamos todos no mesmo barco

Entenda que os videoclipes ganharam novas formas de produção, nova estética, direção fotográfica e artística a partir de videochamadas, amigos e familiares operando câmeras de celulares, cortes mais caseiros feitos com app de edição vídeo durante a pandemia. Mas graças à criatividade e ao advento tecnológico, estas novas formas de produção tornam-se viáveis, e os clipes lançados hoje não devem nada aos lançados antes da pandemia. “Muitas coisas se tornaram desculpáveis durante a pandemia, e a precariedade técnica é uma delas. Precariedade do ponto de vista profissional, não do ponto de vista do resultado. Não é preciso contratar uma equipe de vídeo para entrar online e conversar com seus seguidores, tocar sua música. O artista pode e tem feito pelo celular, com um abajur ligado do lado dela. Em geral, os espectadores ainda estão dispostos a perdoar essas precariedades técnicas porque é como se estivesse todo mundo no mesmo barco”, afirma Souza Lima.

2. Planeje bem

Economizar é a regra número 1 para qualquer artista independente. Em tempos de crise, um bom planejamento é ainda mais necessário. Tenha planilhas para organizar cada etapa do projeto, negocie valores com os profissionais envolvidos, pesquise aplicativos e soluções gratuitas para utilizar durante as etapas de produção, edição e publicação.

3. Não descuide da logística

Uma das medidas sanitárias para conter a disseminação do coronavírus é evitar a concentração de pessoas, sobretudo em espaços fechados. Isso faz com que a logística do projeto mereça uma atenção especial. Em tempos pandêmicos, prefira espaços abertos e reuniões online e priorize profissionais da sua comunidade, da sua cidade - trazer um diretor ou um maquiador de outro estado não é “pandemicamente” correto. Privilegie ainda profissionais que possam exercer mais de uma função, a fim de enxugar as equipes e, assim, reduzir as possibilidades de contágio.

4. Não imponha limites às ideias

Nunca foi tão importante desconstruir para reconstruir, e isso também se aplica a ideias. Já que gravações envolvendo pessoas estão limitadas, que tal fazer um clipe em animação? Abrir-se a outros formatos que façam sentido na sua trajetória musical pode levar seu trabalho a caminhos interessantes. Souza Lima garante que a criatividade é estimulada pelo improviso – e cita as lives onde os acasos deixaram as apresentações mais criativas. “O improviso se tornou cada vez mais presente nas produções audiovisuais durante a pandemia, as pessoas estão mais abertas ao acaso, aos sons da quarentena, a pessoa passando atrás durante uma live, um gato entrando no meio do vídeo. Tudo isso é perdoável, aceitável, vira até meme às vezes. São acontecimentos corriqueiros que estreitam a relação do artista com seu público.” De acordo com ele, um erro pode virar um grande acerto e provocar o riso – no público e no próprio artista. “A primeira e única live que o Marcelo Camelo fez foi pelo Instagram, com a câmera frontal de seu celular, com seu gato interferindo de vez em quando, um show de improvisos e uma das mais bonitas que assisti”, diz o videomaker. O mesmo acontece quase que diariamente nas lives da Teresa Cristina, o encontro dela com outros artistas de madrugada, tem toda a questão do delay do áudio, mas ela usa a criatividade para tornar aquele show interessante.

5. Fique de olho nas novas tendências

Algumas tendências são percebidas nos clipes produzidos durante a pandemia, como o uso de chroma key ou outras técnicas de inserção de um fundo ou imagem no vídeo, além de propostas de iluminação que disfarcem o fato de tudo ter sido gravado num único ambiente. Às vezes, como nos clipes do álbum “Só”, de Adriana Calcanhotto, gravados por ela mesma, soluções supersimples como projeções sobre tecidos e sobre a própria pele da artista, com efeitos de câmera, criam uma estética onírica e bela.

VEJA MAIS: O clipe de "Corre o Munda", de Adriana Calcanhotto

Para Souza Lima, uma tendência que se evidenciou durante esse período e que deve permanecer são os backgrounds, os fundos coloridos e animados, nos bate-papos, nas lives, como se fosse uma tentativa de contrapor esse período cinza que estamos vivendo. “As próprias plataformas de streaming ao vivo acrescentaram algumas funções às câmeras que antes eram atribuições apenas para câmeras profissionais, como o chroma. Tem também o recurso de desfocar o fundo. Os highlights passaram a ser suporte de luz para todo mundo, se popularizaram demais, e hoje você vê esse aparato técnico utilizado até na TV. Pedro Bial usa o dele nos programas gravados pela Rede Globo”, explicao videomaker.

Mas a maior tendência mesmo é ressignificar os olhares e criar a partir do que está ao nosso alcance.

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