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20 anos de festival Coquetel Molotov revisitados em documentário
Publicado em 04/04/2024

Filme tem pré-estreia nesta 5ª, no Recife, com entrada gratuita; entrevistamos a curadora Ana Garcia sobre passado e presente do Coquetel

Por Michelle de Assumpção, do Recife

Público fiel do Coquetel em cena do documentário: transformações variadas nos últimos 20 anos. Divulgação

Foi no ano 2004 que um programa de rádio e fanzine do Recife chamado Coquetel Molotov deu um passo que mudaria sua história: transformar-se em No Ar Coquetel Molotov, um festival dedicado a difundir novas cenas de um panorama musical nacional amplo, diverso e experimental. À medida que a cena indie se difundia no Brasil, impulsionada pela interação facilitada pela internet, o festival se consolidou como um catalisador de descobertas. Da primeira edição, no Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), até aqui, passou por outros endereços, atraindo um público cada vez maior e abraçando pioneiramente causas de inclusão de pessoas trans, adotando estratégias de acessibilidade e sustentabilidade e juntando-se a uma iniciativa internacional (Keychange) para promover a inclusão de gênero no line-up.

Toda essa rica história aparece no documentário “Coquetel Molotov.Doc”, que estreia nesta quinta (4), a partir das 19h, com entrada gratuita, no Teatro do Parque, na capital pernambucana. Depois, ficará disponível no canal do Coquetel Molotov no YouTube.

Sob a direção de UHGO, o filme reúne imagens icônicas e depoimentos fundamentais dos criadores do festival, Ana Garcia, Jarmeson de Lima e Viviane Menezes, além de músicos, técnicos, colaboradores e integrantes da equipe de um evento que, hoje em dia, emprega mais de 500 pessoas a cada edição. As histórias narradas dão conta da vitalidade e atualidade do festival, que continua sendo um dos mais importantes do país para a difusão da cena underground.

Entre os momentos históricos, estão a já lendária apresentação do Racionais MCs, que levou o público para cima do palco; o show de uma então pouco conhecida Karol Conká, numa pequena sala do festival; além de performances marcantes de Milton Nascimento co Lô Borges, Tasha & Tracie, Letrux, MC Carol.

“A equipe me disponibilizou o acesso a todo o acervo e desenvolvemos o argumento referente ao esqueleto do filme.  Essa organização do acervo facilitou uma parte do trabalho, me restou assistir tudo, entender o que funcionava e o que fazia sentido pra narrativa”, diz UHGO.

Ele montou uma história na qual fica evidente o peso da curadoria e do olhar afiado sobre o novo para o enorme sucesso do No Ar Coquetel Molotov.

“A curadoria está sempre atenta ao que o público jovem gosta de ouvir, fora a ideia de propor artistas num line-up e que, dali ,pode surgir sua banda favorita. Outro ponto importante é que o público foi mudando ao longo dos 20 anos, tanto por esse line-up “chiquerrimo”, quanto pelas políticas inclusivas trabalhadas no público e nas pessoas que fazem o festival acontecer. Acredito que o fundamento esteja por aí, na ideia de fomentar uma arte diversa.”

Sobre o papel da curadoria e aspectos importantes do Coquetel, do passado, presente e futuro, a cocriadora do festival Ana Garcia falou com o site da UBC.

Uma característica marcante do Coquetel Molotov é a garimpagem seleta, lançando luzes também para artistas que nunca estiveram em outros festivais no país. Como funciona essa curadoria?

ANA GARCIA: A curadoria é um desafio intrigante, uma montagem complexa que envolve artistas esperados pelo público, novidades que nunca estiveram em nossos palcos, lançamentos frescos... Com o recente boom dos festivais nos últimos três anos, essa tarefa se tornou ainda mais desafiadora. Acredito que cerca de 80% dos frequentadores do Coquetel Molotov buscam uma experiência inédita, e é isso que nos esforçamos para proporcionar sempre. Para mim, é fascinante manter o festival jovem e vibrante mesmo após 20 anos. Isso se deve muito às pesquisas constantes e à equipe dinâmica, assim como ao público em constante renovação. A curadoria é, sem dúvida, nosso bem mais valioso. É crucial estar atento ao que está acontecendo na música, nas tendências culturais, nas ruas, e ser pioneiro em trazer essas novidades para os nossos palcos. Essa abordagem naturalmente levou a mudanças e nuances na curadoria, desde o indie rock até o brega funk, refletindo a diversidade e a evolução constante das cenas musicais.

Ana Garcia, cocriadora do Coquetel. Reprodução Instagram

As mudanças no mercado da música, da transferência de praticamente todos os processos da produção e da distribuição pro campo das plataformas digitais, contribuíram ou impactaram de que forma o Coquetel?

Sempre estivemos na vanguarda da tecnologia. O próprio Coquetel Molotov tem raízes na era digital, até mesmo brincando com a ideia de ter sido "criado no IRC" em seus primórdios. Brincadeiras à parte, as mudanças significativas no mercado musical em direção ao digital ampliaram consideravelmente nosso acesso a uma diversidade maior de artistas e músicas de todo o mundo, ao mesmo tempo em que cultivaram um público cada vez mais informado e exigente. Antes, os espectadores chegavam ao festival para descobrir novos talentos, mas hoje em dia, muitos já chegam com conhecimento prévio das letras e prontos para cantar junto. Isso transforma a experiência de um festival de música em algo mais profundo do que apenas a audição das músicas, criando um ambiente imersivo que transcende o palco. Atualmente, estamos vivenciando uma nova fase nesse cenário digital, onde as redes sociais e os algoritmos desempenham um papel crucial. Isso às vezes nos coloca diante do desafio de equilibrar a busca por artistas com números expressivos e grande visibilidade online, com a necessidade de garantir que esses artistas também possuam um público engajado e presente nos shows ao vivo.

Qual será o direcionamento do Coquetel em 2024? E como você pensa esse festival no futuro?

Certamente, estamos em um momento crucial na trajetória do Coquetel Molotov, especialmente ao adentrarmos em sua 20ª edição. Essa marca emblemática nos inspirou a repensar completamente nossa abordagem a partir da 21ª edição. Queremos olhar para frente, deixando para trás o que já foi feito, e começar do zero, buscando potencializar ainda mais a capacidade do festival de impulsionar uma cena musical independente, tanto em âmbito local quanto nacional, e amplificar as vozes que muitas vezes não encontram espaço nos palcos convencionais. Ainda estamos explorando como essas mudanças irão se refletir no festival. Estamos considerando expandir o Coquetel Molotov Negócios e tornar o dia do festival mais acessível para todos os públicos, embora ainda estejamos definindo os detalhes dessa iniciativa. Atualmente, estamos buscando apoio através do Artigo 18 da Lei Rouanet, pois reconhecemos que ter um mecanismo de incentivo fiscal será fundamental para facilitar a captação de recursos necessários. Realizar um festival desse porte em um estado sem uma política robusta de mecenato cultural é um desafio considerável. O Coquetel Molotov não se sustenta apenas com a bilheteria, nosso foco principal é o fomento à cena musical, e isso requer incentivos significativos para a realização do evento. Diante desses desafios, estamos confiantes em nossa capacidade criativa, pioneirismo e na competência de nossa equipe para enfrentar e superar os obstáculos que estão por vir.

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