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Beth Carvalho, meio século de samba
Publicado em 09/02/2017

Uma das nossas principais sambistas fala sobre as conquistas do ritmo antes marginalizado e comenta qual é o seu maior sonho envolvendo o gênero

Por Kamille Viola, do Rio



A historiografia do samba registra a primeira gravação de uma canção do gênero (“Pelo Telefone”, atribuída a Donga e Mauro de Almeida, mas na verdade uma criação coletiva) como o marco inicial, há cem anos. A cultura do samba reconhece a contribuição de milhares – milhões – de brasileiros para a construção dessa trajetória que nos enche de orgulho. Um desses contribuintes – dos mais importantes – é a carioca Beth Carvalho, que acaba de completar 51 anos de envolvimento com esse universo tão rico.

"Às custas de muita ralação, a gente conseguiu respeito. Eu brigo mesmo, reclamo", afirma Beth ao comentar a transformação sofrida pelo samba, entre o início, reprimido pela polícia, e os dias atuais, elevado a patrimônio nacional. "Hoje, as condições são melhores, o som é muito superior, temos diretor de shows, bandas excelentes", enumera ela, que este ano será homenageada pela escola de samba Alegria da Zona Sul, do grupo de acesso A carioca, com o enredo "Vou Festejar… Com Beth Carvalho, a Madrinha do Samba".

Beth manda um alô para os leitores do site da UBC


No passado, as mulheres também não eram tão comuns no samba, embora algumas, como Tia Ciata, dona de uma casa na Praça Onze onde aconteciam encontros dedicados ao ritmo - e onde "Pelo Telefone" teria sido composta, como a Revista UBC mostra na sua mais recente edição – tenham sido fundamentais para o estabelecimento das bases sambistas. 

"Existe machismo no samba, mas existe machismo no mundo", comenta Beth Carvalho: "Ao mesmo tempo, o samba tem um lado matriarcal que compensa isso. As mulheres mandam muito. Eles fazem as músicas e olham para as mulheres para ver se elas aprovam. É a mulher que faz as festas, faz a comida, coordena as pastoras..."

Além de se destacar por ser mulher em um meio em que os homens ainda predominam, Beth tem outra particularidade: vem da Zona Sul do Rio, enquanto a maior parte dos sambistas nasceu nos subúrbios e nas favelas. "Teve uma época que a Zona Sul estava mais ligada ao samba... Foi quando eu me apaixonei por ele de vez. Foi ali no 'Rosa de Ouro' (espetáculo que ficou em cartaz no Teatro Jovem, em Botafogo, em 1965), com a Clementina (de Jesus). Assisti 13 vezes", lembra. "Teve um surto de sambistas jovens nessa época, até alguns da Zona Sul, como o Hermínio Bello de Carvalho (diretor do 'Rosa de Ouro' e descobridor de Clementina). A Zona Sul às vezes se encanta com as coisas e, depois, abandona, mas o samba não tem jeito (risos). Depois que bate na veia, não tem volta."

Que o diga a cantora, que abraçou o ritmo em 1965 (quando lançou o primeiro disco, 'Por Quem Morreu de Amor') e não largou mais. De lá para cá, foram 34 álbuns no total e cinco DVDs. Considerada Madrinha do Samba por ter revelado nomes como o grupo Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombrinha, Arlindo Cruz e Jorge Aragão, até hoje é procurada por novos compositores, que sonham ser gravados por ela. "Quando peço músicas, recebo uma enxurrada", diverte-se. Pudera: já teve música cantada pela artista que foi parar até em Marte. "Coisinha do Pai", de Aragão, Guineto e Luiz Carlos, registrada por ela em 1979, foi uma das que tocaram no Planeta Vermelho em 1997, num divertido revezamento entre canções de todo o planeta para despertar uma sonda enviada pela Nasa. 

Se pudesse escolher um presente para o samba em seu centenário, a cantora não hesita por um instante sequer na hora de responder: o seu sonhado Instituto do Samba Beth Carvalho. "Um instituto onde se ensine o samba para a juventude carente, com um museu de coisas minhas e de outros artistas. Por exemplo, se o Nelson Sargento quer expor pinturas dele, pode fazer isso lá. Quero que tenha um teatro para espetáculos. Eu sonho grande (risos)", descreve Beth, para quem a grande magia do gênero é a capacidade de levantar o humor de quem ouve. "O samba tem um poder de alegrar. Se você está triste, fica feliz. Se você está feliz, fica mais feliz ainda. É um ritmo inigualável."


 

 



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