História do artista paulista (foto) na plataforma, onde administra o próprio canal, ilustra a importância de saber como funciona o ContentID, ferramenta vital para a geração de dinheiro com o uso de músicas ali
Do Rio
Como já mostramos esta semana aqui no site, a diversificação das fontes de renda — em qualquer situação, mas principalmente em tempos tão incertos para o mercado musical — é fundamental para o artista que busca estabilidade financeira. E uma das fontes mais importantes, pelo que já rende, mas sobretudo pelo potencial de enorme crescimento nos próximos anos, são as receitas oriundas de plataformas digitais. Monetização com publicidade, direitos fonomecânicos, direitos autorais de execução pública: são várias as maneiras de fazer dinheiro com sua música nos serviços de streaming.
O cantor, compositor, músico e produtor paulista Tuono aprendeu isso na marra. Independente, ele é o gestor do próprio canal no YouTube, com mais de 6 milhões de visualizações/audições de suas canções e seus lyric videos e 83 mil inscritos. Como qualquer criador em busca de promover suas músicas, dedica parte do seu tempo a fazer contatos com grandes canais da plataforma que divulgam novos sons. E, por praxe, esses canais costumam exigir, em troca da inclusão de uma música, que o seu titular desabilite a monetização, de modo que as receitas com publicidade do YouTube fiquem apenas com o canal divulgador em questão.
“A minha distribuidora da época tinha habilitada a opção de rastrear o uso das minhas músicas em outros canais (usando a ferramenta ContentID). Eu desabilitei essa função porque pensei: se, a cada vez que um canal for divulgar um som meu, eu tiver que mandar um e-mail para a distribuidora digital pedindo uma remoção de flag, não vou fazer outra coisa. Foi o que pensei num primeiro momento. Não tinha informação, achei que não era tão importante monetizar”, lembra o artista.
Ao desabilitar qualquer possibilidade de monetização, porém, ele não renunciava só ao dinheiro de publicidade que chegaria através do canal divulgador, mas de todos os outros. Ou seja, qualquer usuário do YouTube poderia usar suas músicas livremente, sem que a ferramenta do ContentID o detectasse, e ainda poderia monetizar sobre elas.
"Só fui entender que vacilei quando me filiei à UBC e comecei a ter acesso a uma melhor informação sobre o tema."
Tuono
“Certamente perdi dinheiro com isso. Só fui entender que vacilei quando me filiei à UBC e comecei a ter acesso a uma melhor informação sobre o tema”, diz Tuono. “Estou correndo atrás de corrigir a situação. Abri as listagens dos canais que eu quero que continuem a usar minha música sem cobrança, porque me interessa estar ali, e estou habilitando o ContentID para todo o resto.”
Ou seja, com essa mudança que ele está fazendo, a ferramenta voltará a rastrear os usos e aplicará a política que, por padrão, é permitir que o artista monetize no caso de alguém usar suas canções. Porém, para atender à regra dos canais parceiros divulgadores, que solicitam a renúncia à monetização pelo artista, ele poderá selecionar especificamente os vídeos/músicas a ser divulgados e liberar a reivindicação sobre elas.
“Aqui na ONErpm, nós orientamos o artista, ou o responsável pelo canal do artista, a subir esses vídeos como não listados e nos enviar a relação deles antes de a divulgação vir a público”, explica Marcão Baixada, que trabalha no setor YouTube Operations da agregadora digital e, como músico e compositor, também é associado à UBC.
Vale lembrar que, por mais que o artista possa elaborar ele mesmo a listagem das músicas que quer incluir na lista de liberação de reivindicação, o envio dessa relação ao YouTube deve ser feito pela agregadora/distribuidora digital, e não por ele mesmo diretamente. Igualmente, para pôr uma música em outras plataformas de streaming musical, como Spotify, Deezer ou Apple Music, já é obrigatório ter um contrato com um desses serviços, pois tais plataformas não permitem que o artista publique suas músicas diretamente em seu banco de dados.
"Orientamos o artista, ou o responsável pelo canal do artista, a subir esses vídeos como não listados e nos enviar a relação deles antes de a divulgação vir a público."
Marcão Baixada, YouTube Operations da ONErpm
“É muitíssimo comum a inclusão de músicas nessas listas de exceção. É um procedimento corriqueiro. Nós trabalhamos com a GR6, por exemplo, um canal de funk bastante grande (com mais de 16,2 bilhões de visualizações de seus vídeos e 30 milhões de inscritos), e muita gente pede para divulgar suas músicas ali (liberando-as de reivindicação)”, explica Cris Falcão, diretora administrativa da filial brasileira da Ingrooves, gigante da distribuição digital ligada à Universal Music Group.
Apesar do trabalho grande que isso supõe, ela recomenda que o artista cuidadosamente selecione cada música de cujos direitos de monetização abrirá mão, jamais desabilitando o ContentID como um todo, como havia feito antes Tuono. Assim, fica garantida a devida remuneração pelos demais usos no resto da plataforma.
"Como é um tema complexo, gera muita desconfiança. Muitos titulares se queixam dos valores que recebem e dizem que há algo errado com o sistema, quando na verdade, por falta de informação, ele pode não estar se beneficiando do sistema como deveria."
Cris Falcão, diretora administrativa da Ingrooves
Direitos dos autores no digital
Outra coisa que Cris cita é a importância de ter também um contrato com uma editora. É preciso que os compositores tenham representação dos direitos de reprodução, conhecidos como mecânicos, para receberem parte dos direitos autorais digitais.
Uma parte desse dinheiro está sempre garantida para o compositor porque é distribuída através do sistema Ecad e de suas sociedades, como a UBC. Mas outra parte, relativa aos direitos fonomecânicos, vem através da editora ou de alguma entidade que tenha acordo com esses provedores de serviços digitais para este tipo de direito, como é o caso de algumas distribuidoras. Ou seja, se a sua distribuidora não tem acordo, e você não está numa editora, vai ficar sem receber grande parte da receita oriunda dos direitos autorais digitais.
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“A parte fonográfica, o direito artístico, vai chegar se você tem uma distribuidora/agregadora digital. O problema aqui é o autoral, que depende de editora”, diz Cris. “A maioria dos artistas não conhece todas essas informações, é muito importante se informar muito bem e pesquisar as opções na hora de tomar decisões. Como é um tema complexo, gera muita desconfiança. Muitos titulares se queixam dos valores que recebem e dizem que há algo errado com o sistema, quando na verdade, por falta de informação, ele pode não estar se beneficiando do sistema como deveria”, pondera a executiva, com mais de 15 anos de experiência no mercado musical.
Para Tuono, a lição demorou mas já vem dando frutos através de melhores rendimentos.
“Nosso trabalho tem que ser remunerado. É nossa forma de pagar as contas, de nos manter. A cadeia musical é muito grande, envolve muita gente. No fim das contas, a gente trabalha para pagar conta, tá ligado? Somos trabalhadores, como advogados, recepcionistas, atendentes de call center, vendedores de carro, caixas de supermercado... O pagamento correto dos direitos autorais permite que não só eu, mas todos os envolvidos recebamos e tenhamos uma vida digna.”
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