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No seu Dia Nacional, rádio tem muito o que comemorar
Publicado em 25/09/2022

Consumo do meio mostra força, e arrecadação de direitos autorais cresce acima do período pré-pandemia

Por Ricardo Silva, de São Paulo

Colaboração de Alessandro Soler, de Madri

Pessimistas de plantão já decretaram sua morte várias vezes; mas o rádio, teimoso, insiste em gozar de boa saúde, obrigado. Neste domingo, 25 de setembro, em que se comemora seu Dia Nacional, o mais direto e democrático dos meios de difusão de músicas e informação tem motivos para celebrar. E os números mostram isso. 

O abrangente estudo "Rádio: A Voz do Novo", elaborado pela Kantar Ibope Media no primeiro semestre, mostrou que o consumo desse meio no Brasil saltou 186% entre 2019 e 2021. Mesmo com a pandemia — ou, talvez, por causa dela —, os ouvintes de uma mídia que já existe no nosso país há 100 anos continuam fiéis e crescem. 

A difusão por ondas FM e AM captadas no dial do rádio — no carro, em casa, em qualquer lugar — ainda é a maneira mais popular de consumo: 46% das pessoas ouvem rádio à moda antiga. Mas um importante percentual de 28%, sobretudo os ouvintes mais jovens, já aderiu ao rádio online cotidianamente; e 36% das pessoas já têm aplicativos de rádios instalados no smartphone. 

Para especialistas, este é, aliás, o pulo do gato que deverá manter a relevância do meio por anos ainda. 

"O rádio está sabendo evoluir para ir buscar o público onde ele está. E não me refiro só ao mundo digital. Tem muita gente que, por exemplo, curte consumir música prioritariamente em shows. O que o rádio faz? Buscar parcerias com festivais, patrocinar shows, produzi-los. No caso do consumo digital, a aposta é em aplicativos com conteúdos exclusivos, que não só repitam a programação do dial, além de podcasts, vídeos dos programas...", enumera Marcelo Braga, diretor geral do Grupo Mix de Comunicação. 

Responsável pela Mix FM, a sétima rádio mais ouvida da Grande São Paulo, Braga é consciente de que, num meio tão competitivo como esse, para seguir crescendo não basta se conformar com o universo de ouvintes do trânsito, que têm no rádio do carro o fiel companheiro dos engarrafamentos.

"Já temos um terço da nossa audiência vindo do digital. Queremos mais", resume.

O crescimento da audiência registrado no último biênio se traduz no aumento também dos direitos autorais musicais pagos pelo rádio — ou seja, mais dinheiro no bolso dos titulares das canções ouvidas todos os dias nas centenas de estações espalhadas por todo o Brasil. A pedido da UBC, o Ecad compilou com exclusividade os números de arrecadação e distribuição do segmento rádio. E eles são animadores: 

  • No primeiro semestre de 2022, a arrecadação de rádio subiu 24,8% em relação ao mesmo período de 2021. 
  • Em relação ao primeiro semestre de 2019, a expansão foi de 25%. Ou seja, o rádio não só se recuperou dos efeitos da pandemia como já teve crescimento real. 
  • O segmento rádio foi o responsável por 10,1% de tudo o que o Ecad arrecadou no primeiro semestre deste ano. Em 2019, eram 9%. 
  • Ainda no primeiro semestre deste ano, o segmento Rádio + Direitos Gerais distribuiu aos titulares R$ 93,6 milhões, 18% do total do período e 43% mais do que no primeiro semestre de 2021.
  • 62 mil titulares já foram contemplados este ano com pagamentos de direitos autorais provenientes do rádio.

Os ótimos números refletem a saúde do segmento. Com bom faturamento, mais rádios podem pagar aos titulares, gerando um ciclo virtuoso que beneficia todo o mercado. E o faturamento, claro, se deve à boa audiência. Não tinha como ser diferente. 

"Todo mundo tem acesso ao rádio, não depende de internet nem de eletricidade, dá para ouvir num aparelho de pilha. Não dá para se pensar em difusão de música, de notícias e informação sem pensar nele. Quem mora nos grandes centros até perde um pouco a noção disso, mas o rádio, no interior do Brasil, tem uma função social insubstituível. Sou de Volta Redonda (RJ), que nem fica tão longe do Rio. É comum minha mãe e minhas tias dizerem 'ah, mas isso não deu no rádio', ao falar de um fato qualquer. Para muita gente, se não saiu no rádio é como se nem tivesse acontecido", analisa Fabiane Pereira, jornalista especializada em rádio e apresentadora dos programas Faro e Rádio Retrato, ambos na Novabrasil FM. 

A facilidade de acesso e o enorme alcance fazem deste meio o candidato ideal a sobreviver a guerras ou desastres naturais.

"Eu costumo brincar que o rádio vai anunciar o fim da internet", ri a apresentadora. 

Se é que não se une definitivamente a ela antes. Para além do experimento da Noruega, que há cinco anos apagou a transmissão em ondas FM — a AM já havia acabado antes — e migrou todas as estações para o mundo digital (através de aplicativos, sites, podcasts e outros formatos), há muitas outras maneiras de promover a sinergia entre rádio e as grandes plataformas online.

Uma dessas seria, por exemplo, promover lançamentos casados entre uma plataforma e uma estação. Ou levando o conceito da curadoria do rádio para podcasts hospedados nas plataformas. Rádios digitais também poderiam ser abrigadas inteiramente em plataformas de streaming, por que não?

De acordo com Alexandre Hovoruski, diretor artístico da Alvorada FM de São Paulo, "as rádios têm audiência rotativa e repetem seu conteúdo, então uma música que faz sucesso na rádio, e dependendo do formato, chega a tocar mais de 500 vezes em um ano." Parece muito, mas é uma fração do que a mesma canção poderá tocar no streaming. Portanto, o rádio tem um componente de "exclusividade" que a torna o ambiente ideal para os grandes lançamentos. 

Além disso, a própria rotatividade do público da rádio confere a este meio uma enorme agilidade. Foi, em parte, graças a essa característica que a música pop contemporânea reduziu as longas introduções das décadas passadas e limitou o tempo máximo de uma canção aos três minutos, tendência que se aprofundou no streaming, como lembrou Hovoruski. E como esquecer o papel dos curadores — DJs, MCs, apresentadores — que inspiraram os atuais editores das playlists de plataformas como Spotify, Apple Music ou Deezer?

"Num mundo com uma quantidade de informação não só gigantesca mas impossível de assimilar, as pessoas buscam curadoria, alguém que as ajude a codificar o que é bom. E o rádio construiu um patrimônio nisso", opina Marcelo Braga. "As pesquisas mostram que muitas pessoas fazem as descobertas no rádio e, depois, vão ao streaming ouvir até enjoar. Aí voltam ao rádio em busca de outras novidades. Essa relação humanizada, próxima, é o que mantém o rádio saudável e forte." 

Ele cita o caso do agora fenômeno pop Jão, associado da UBC que estourou no streaming depois de começar a tocar frequentemente na programação da Mix: 

"A gente já vinha falando com ele, já tinha contato, mesmo sem ser do mainstream. Ele trazia diferentes singles, e a gente dizia 'achamos que essa ainda não tem o perfil da Mix', que é de forte competição no mundo do pop", lembra o diretor da rádio. "Até que veio 'Coringa', e a gente disse: 'é essa!'. O número de streams dele nas plataformas foi lá em cima. Outras parcerias com nomes emergentes poderiam surgir assim. Estamos conversando com uma grande distribuidora digital, a ONErpm, para fechar acordos nesse sentido. Somos complementares. Entregamos os artistas deles às massas e temos conteúdos exclusivos para apresentar aos nossos ouvintes. Todos ganham."

Impulsionado pelo desempenho na programação da Mix, Jão afirmou, segundo Braga: "a rádio mudou a minha vida". 

"Foram o rádio e o seu impacto", diz o executivo. "As ondas podem até migrar do AM e do FM para o digital. Mas as marcas do rádio e sua respeitabilidade ficarão."

Fabiane Pereira sabe bem disso:

"Essa relação de respeito e proximidade é construída pelos apresentadores. Eles se tornam amigos das pessoas, sobretudo no interior, passam a conhecê-las... Se a pessoa liga pra rádio com frequência, o apresentador acaba conhecendo detalhes sobre a vida dela. Nos fazemos companhia. Para você ter uma ideia, meu produtor atualmente na rádio era um ex-ouvinte. Acho que, com isso, não preciso dizer mais nada."

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