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Neste Dia Nacional da Música Clássica, mercado celebra forte retomada
Publicado em 05/03/2023

Compositores e regentes brasileiros comentam setor reaquecido no pós-pandemia, com novas criações e montagens aqui e lá fora

Por Eduardo Fradkin, do Rio

O compositor e pianista André Mehmari: agenda plena para os próximos meses. Foto Tarita de Souza

Compositores clássicos, diretores de ópera e regentes de orquestras retomaram um ritmo de trabalho intenso após um período em pianíssimo ditado pela pandemia de Covid-19. O niteroiense André Mehmari, por exemplo, que divide seu tempo entre a composição e a carreira de pianista, fará a estreia de uma ópera composta há três anos, justamente no auge da pandemia, e tem outras três obras encomendadas em produção. Não é, nem de longe, um caso único. "Este ano, ao que tudo indica, os trabalhos serão mais em torno da criação", avalia, neste Dia Nacional da Música Clássica — data que marca o aniversário de nascimento de Heitor Villa-Lobos, há 136 anos.

Composta em 2020, a ópera "O Machete", de Mehmari, chega ao palco do Theatro São Pedro, em São Paulo, em junho. É baseada no conto homônimo de Machado de Assis, de 1878.

"É um conto que tem uma temática muito machadiana, da dualidade entre a alta e a baixa cultura. Ele sempre tratou esse assunto com maestria. Eu fiz o libreto, para uma ópera com cerca de uma hora de duração. Ela traz referências a outras óperas e à música da virada do século XIX para o XX, de nomes como Chiquinha Gonzaga e (Ernesto) Nazareth. E tem uma curiosidade: eu tocarei cravo", conta o compositor.

Além disso, Mehmari está escrevendo um concerto para violoncelo e orquestra dedicado ao solista Antonio Meneses, que o estreará com Filarmônica de Minas Gerais, no fim do ano; está finalizando a peça "Portais Brasileiros 4", para dois violões e orquestra de câmara, a ser gravada pelo Duo Siqueira Lima no estúdio do próprio compositor, em junho; e ainda está criando um adendo para "As Quatro Estações" de Antonio Vivaldi, que o público poderá conferir em novembro.

"A Orquestra Ouro Preto me pediu para compor árias para soprano, cordas e cravo que antecedessem cada estação. Vivaldi deixou sonetos para serem lidos antes de cada estação. É uma coisa que pouca gente conhece. Eu vou musicar esses sonetos para a Marília Vargas, que é uma cantora especializada em barroco", explica ele.

André Heller-Lopes: trabalhos na Europa e no Brasil. Divulgação

Com trabalhos entre o Brasil e a Europa, o diretor de ópera André Heller-Lopes também anda ocupado. Ele tem montagens das óperas mozartianas "Don Giovanni", "Così Fan Tutte" e "As Bodas de Fígaro" em cartaz no Velho Continente, além de trabalhos engatilhados por aqui para os próximos meses: 

"Estou preparando 'Anna Bolena', de Donizetti, para o Festival Amazonas de Ópera, um espetáculo em homenagem ao centenário da Maria Callas. Essa ópera não é feita no Brasil desde 1844. Depois disso, faço 'A Raposinha Astuta', de Janácek, no Theatro São Pedro, em São Paulo. E, em novembro, tenho 'La Traviata' (ópera de Verdi) no Theatro Municipal do Rio de Janeiro", enumera o diretor, que, em janeiro, encenou com sucesso "Domitila", do compositor brasileiro João Guilherme Ripper. 

Ripper, por sua vez, pontua: 

"O ano passado foi um tempo de retomada, e as coisas estão mais aceleradas em 2023." 

Ele acaba de voltar dos EUA, onde viu a Sinfônica de Seattle tocar seus "Cinco Poemas de Vinicius de Moraes". Enquanto estava lá, trabalhou com alunos da Escola de Música da Universidade de Illinois em uma nova ópera, chamada "Candinho", baseada nas memórias de infância do pintor Candido Portinari. A produção estreará em maio, no Krannert Center, no campus daquela universidade. "No Brasil, ela será apresentada, provavelmente, no Teatro Guairinha, de Curitiba, ou no Theatro São Pedro, de Porto Alegre, em julho. Talvez em ambos", anuncia Ripper, que embarcou para Portugal para assistir à estreia de seu "Pequeno Concerto Para Mafra", para piano e cordas, no dia 8 de março.

O compositor Marlos Nobre, que se define como um "cidadão de aeroporto" - pois viaja frequentemente para assistir às primeiras audições de suas obras no exterior - é outro que vem trabalhando em encomendas, embora em sigilo. No auge da pandemia, ele estava em Pernambuco para reger concertos da Orquestra Sinfônica do Recife, da qual era diretor musical. Os compromissos acabaram sendo cancelados e, com a recente troca de prefeito da cidade, ele foi dispensado do posto.

"De volta ao Rio, retomei as minhas atividades como compositor, com tempo mais livre para me dedicar a isso. Durante a pandemia, fui presidente do júri internacional do prestigiado Prêmio Tomás Luis de Victoria, da Espanha. Além desse importante convite, retomei algumas encomendas de instituições internacionais, que, por enquanto, não posso informar. Sempre trabalho no meu estúdio, em casa, e, em época de composição, fico isolado e concentrado totalmente na construção da obra", comenta Nobre.

Marlos Nobre: encomendas de instituições internacionais. Divulgação

No entanto, não há apenas o que se celebrar este ano. Em fevereiro, foi noticiado que o público do Theatro Municipal de São Paulo protestou ruidosamente em uma apresentação do Balé da Cidade de São Paulo. As vaias foram dirigidas à organização social Sustenidos, que gere o teatro e está em pé de guerra com os corpos artísticos, sob ameaça de demissões em massa. O Municipal do Rio, por sua vez, aumentou seus corpos artísticos no ano passado. Com contratos temporários, foram trazidos 24 músicos para a orquestra, 24 coristas e 23 bailarinos.

O regente titular da orquestra do Municipal, Felipe Prazeres, diz que a programação do teatro carioca, este ano, será oportuna para os músicos (recém-contratados e antigos) se entrosarem.

"Este ano, teremos muita música sinfônica, o que acho particularmente bom, porque a orquestra do Theatro Municipal está se formando de novo. Muitos músicos se aposentaram e houve contratação de muita gente nova, sedenta por tocar. Temos a nona sinfonia de Beethoven, efemérides de Berlioz e Wagner, cujos concertos faremos junto com a Orquestra Sinfônica Brasileira, e os concertos de Tchaikovsky para piano e para violino. Isso é excelente para a orquestra, porque os músicos vão se conhecer melhor e criar uma unidade musical", opina Prazeres.

Ele atesta que não tem havido escassez de público no teatro:

"Todas as instituições estão numa retomada pós-pandemia. E o grande público está ávido por eventos, talvez por uma carência ou por não ter ido antes (da pandemia). No ano passado, tivemos bastante público no Theatro Municipal. Praticamente todas as récitas de 'O Barbeiro de Sevilha' e 'Don Giovanni' ficaram lotadas".

Na Orquestra Petrobras Sinfônica, onde atua como violinista, Prazeres conta que a música coral terá uma presença maior este ano, em obras como a "Missa Solemnis" de Beethoven:

"O maior trunfo da orquestra é o regente titular, Isaac Karabtchevsky, o maior maestro brasileiro vivo, aos 88 anos. A gente está tentando, cada vez mais, retomar uma vida coral, porque a orquestra foi criada a partir dos corais, e o fundador, meu pai, era um regente de coro em sua essência."

Felipe Prazeres: público de volta com força. Foto: Daniel Ebendinger

Os concertos da Petrobras Sinfônica baseados em discos de pop e rock, de bandas como Coldplay, Metallica e Pink Floyd, continuarão este ano:

"É uma orquestra camaleônica. É uma orquestra que toca Guns N' Roses e vai tocar, nesta temporada, a 'Sinfonia Alpina', de Richard Strauss. Somos guardiões da tradição sinfônica, mas estamos a serviço de qualquer tipo de música. A orquestra sai feliz dos concertos com repertório de rock", garante Prazeres.

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