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Por que o hit 'Barbie Girl' não está no filme 'Barbie', mas um sample dele sim
Publicado em 24/07/2023

Entenda como é possível o uso do clássico dos anos 90 como pano de fundo de uma música de Nicki Minaj que alcançou o top 50 global do Spotify 

De São Paulo

Cena do clipe de "Barbie Girl", de 1997: nova vida organicamente, mas ausência da trilha do filme

Se você tem a impressão de que só se fala do filme “Barbie”, segunda maior estreia do cinema mundial este ano, com US$ 337 milhões arrecadados, percebeu bem. A megaestratégia de marketing em torno do lançamento do longa dirigido por Greta Gerwig e estrelado por Margot Robbie já fez as vendas do brinquedo dispararem uma média de 17% globalmente e, no caso de países como a Colômbia, até 200%. As ações da fabricante Mattel foram junto, alcançando seu maior valor desde 2017. A festa dos números é geral e, claro, também atingiu a indústria da música.

O hit de 1997 “Barbie Girl”, da banda Aqua, formada por integrantes dinamarqueses e noruegueses, teve um salto de 20% nas suas audições totais no Spotify só nos últimos dias, além de ter superado a marca de 1 bilhão de visualizações do clipe no YouTube há algumas semanas (de fato, já está em 1,2 bilhão). Uma nova vida para um clássico das pistas de dança e dos programas da MTV que levou muita gente a se perguntar: por que não entrou na trilha sonora do filme?

De acordo com Graeme McMillan, jornalista e analista musical do portal americano The Popverse, uma velha briga judicial entre, de um lado, a Mattel e, de outro, os autores, a editora e até os diretores do clipe de “Barbie Girl” pode ter contribuído para uma ausência de acordo. 

“O uso de um tom de rosa que é marca registrada e propriedade da Mattel no clipe da música motivou um dos processos”, ele explicou, lembrando que a fabricante alegou ainda que a sexualização presente na narrativa do clipe levou a Mattel a pedir sua retirada, o que, na época, não foi atendido pela Justiça americana. “A corte de apelações federal de São Francisco não aceitou o argumento. Declarou que a canção era uma paródia e que, portanto, tinha proteção legal sob a primeira emenda da Constituição americana.”

Mesmo sem a bênção da dona da marca Barbie, a canção teve vida própria, percorreu todos os circuitos de distribuição disponíveis na época (rádio, as já mencionadas MTV e pistas de dança, mais tarde o YouTube e o streaming de áudio) e foi viver seu merecido descanso na gaveta das esquisitices dos anos 90 que habitam nossas recordações saudosistas. Até que todo o blá blá blá em torno da boneca mais famosa do mundo, por conta do filme, lhe ofereceu uma nova chance de brilhar. 

“É a cara da nossa era de virais, da pós-pós-pós-modernidade: tudo o que é velho é novo de novo”, ri Peter Strauss, gerente de Relações Internacionais, Distribuição e Licenciamento da UBC. “A força da marca e a abordagem que o marketing do filme fez encaixam perfeitamente com o revival da música. O filme é uma máquina de memes, assim como o era o clipe original de 'Barbie Girl'.”

Ele lança outra hipótese para a ausência da música original no filme, para além da alegada briga judicial entre seus autores e a Mattel. Uma hipótese que ganha força quando sabemos que, embora a “Barbie Girl” noventista não tenha entrado completa, seu grudento refrão é o pano de fundo de “Barbie World”, lançamento de Nicki Minaj e Ice Spice — e esta, sim, está na trilha do longa.

“É muito normal que queiram aproveitar os artistas contemporâneos, com uma grande capacidade de engajamento de fãs e viralização, como a Nicki Minaj. É tudo parte do script de como essas coisas acontecem hoje”, descreve Strauss.

Na era dos 100 mil lançamentos novos por dia — ou seja, um momento da indústria em que a música tem necessariamente uma vida cada vez mais curta —, renascimentos assim, que pegam carona nas conversações das redes ou em lançamentos de filmes e séries, são o sonho de consumo de qualquer titular de direitos autorais musicais. Poderia todo esse contexto estimular autores a escreverem músicas dedicadas a super-heróis, personagens de sagas cinematográficas famosas ou até celebridades, na esperança de que algum lançamento futuro transforme suas criações em memes?

“As pessoas tentam. Com mais ou menos sucesso. Mas uma característica desses virais é que é muito difícil prever o que vai bater com o zeitgeist (o espírito da época). Às vezes, o pessoal força um pouco a barra, e isto não costuma funcionar. Virais só funcionam quando o público tem a percepção de que são algo natural. Mesmo que não sejam”, opina Strauss. 

Se a sua criação vai ou não colar num filme de sucesso é mesmo impossível de prever. Assim como também não é nada fácil estabelecer quanto você ganhará caso um sample dela vá parar num outro hit bombante — caso da nova música de Minaj, que, um mês depois do lançamento, já é a sexta no top 50 global do Spotify. E subindo.

Como explica o gerente de Licenciamento da UBC, não há uma lei ou regra que pré-estabeleça percentuais. A única coisa que a legislação obriga é a solicitação prévia de autorização dos titulares. Fatores como o uso que se dará, o tempo e a importância do sample dentro da nova música e até o poder de fogo dos autores vão determinar quanto eles levarão com os ganhos e que participação terão. 

“No caso do sample, são duas negociações: uma com os detentores dos direitos da composição, outra com os detentores dos direitos do fonograma, ou seja, a gravação original que está sendo usada. Via de regra, quem é titular da canção e do fonograma originais tem maior poder de barganha e fica com a parte maior. Mas realmente vai depender de cada caso, da negociação entre as partes e dos muitos critérios que forem usados”, conclui Strauss. 

 

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