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Algoritmos de recomendação: tem que 'gostar' deles pra usá-los a seu favor
Publicado em 04/10/2023

Dani Faria, empresária musical e responsável pelo selo Urban Pop, dá sua opinião sobre o tema na série que a UBC publica a semana inteira

O uso de algoritmos de recomendação nas plataformas de streaming é um tema tão polêmico quanto pouco conhecido em detalhes, mesmo entre especialistas no mercado musical. Embora muitos defendam que houve uma democratização sem precedentes no acesso à música nova com a difusão dessa tecnologia de inteligência artificial — baseada num complexo sistema de classificação de usuários para sugerir a música "certa" à pessoa "certa" —, também são vários os críticos do método, por verem um enviesamento nos algoritmos, que, controlados pelas big techs, utilizariam critérios econômicos nas recomendações e manteriam as pessoas em suas "bolhas", sem oferecer de fato novidades.

Na segunda-feira (2), Dani Ribas, doutora em sociologia com tese e trabalhos sobre os algoritmos, abriu o debate aqui no site da UBC. Na terça (3), foi a vez de Luiz Eduardo Garcia, empresário e consultor com ampla experiência no mercado musical, tanto do lado das gravadoras como das plataformas digitais. Nesta quarta (4), quem continua é Dani Faria, empresária musical responsável pelo selo Urban Pop e sócia de Kamilla Fialho na K2L Empresariamento Artístico.

 

Algoritmos de recomendação: tem que 'gostar' deles pra usá-los a seu favor

Por Dani Faria, do Rio*

A UBC me convidou para falar um pouquinho dos tão polêmicos algoritmos. Afinal, eles mais ajudam ou atrapalham a vida dos artistas musicais independentes? Já adianto que, na verdade, o algoritmo é como uma pessoa que sabe se valorizar em suas relações. Ou seja, ele só vai gostar de quem gosta dele de volta.

O algoritmo nada mais é do que uma sequência de ações executáveis que servem para resolver todo tipo de problema. No caso das redes e plataformas, eles determinam qual conteúdo vai aparecer pra você primeiro. Basicamente, o algoritmo reproduz ações feitas por seres humanos várias e várias vezes. Nesse sentido, se, ao ouvir música, você deixar o aleatório da sua plataforma preferida comandar, ele vai entender que você está curtindo aquela seleção e vai repetir essa ação. Se você gosta, consome e escuta música de artistas de um determinado nicho ou gênero musical, os algoritmos vão sugerir outros artistas do mesmo segmento para você.

Temos que usar essa inteligência a nosso favor! É muito comum ouvir discursos de alguns grupos acusando o algoritmo de ser um grande mecanismo feito para distribuir plays para um grupo pequeno, beneficiando uma seleta gama de artistas gigantescos, mas isso não poderia estar mais errado. Na atual conjuntura da economia da atenção, o que as plataformas mais querem é que você passe o maior tempo possível dentro delas, já que isso as torna relevantes para a veiculação de propagandas. Mas se as mesmas te sugerem apenas o que você não quer ouvir, definitivamente não vai querer permanecer ali! Percebe?

Então, artista, jogue o jogo e pare de se vitimizar. O que temos que perceber é que, hoje em dia, é possível gravar uma música com o celular e, com mais cinco reais diários no Instagram, por exemplo, você consegue exibir esse conteúdo cerca de 1.000 vezes. São 1.000 chances de impactar alguém com a sua arte. São 1.000 chances de entender seu público e, de quebra, treinar o algoritmo a entregar seus conteúdos para as pessoas certas. Depois que esses possíveis fãs engajarem com você, vão visitar seu perfil, ver e ouvir seus vídeos e suas músicas. E, se se tudo der certo — o que na linguagem do marketing chamamos de “converter” —, ele vai te seguir e passar a te ouvir também nas plataformas de streaming.

Dito tudo isso, chegamos ao momento crucial dessa análise: os conteúdos orgânicos e, claro, a qualidade artística. Se você não tiver uma presença legal nas redes, que mostre um trabalho consistente e a sua incrível personalidade, você dará um tiro no pé gastando trinta reais sem ter o que mostrar às pessoas. As redes sociais ainda são a maior rede de pesca dos artistas independentes.

O mesmo raciocínio vale para as plataformas de streaming, ok? Ao fazer o pitch, você não só apresenta seu trabalho para os curadores das playlists editoriais, mas também computa informações essenciais para as playlists de algoritmo — aquelas personalizadas para a experiência de cada usuário. É nelas que está o ouro para os artistas pequenos!

Além disso, o consumo de música hoje em dia tem sido muito atrelado ao conceito de “mood”, ou seja, playlists para cada momento do dia, clima do tempo ou, ainda, diferentes eventos sociais. Desse modo, o pagode, por exemplo, deixa de tocar somente na coletânea de pagode, o funk deixa de tocar somente no funk, e a sua música, consequentemente, também! Aumentando, consideravelmente, a chance de novos públicos descobrirem seu trabalho.

Por isso, artista, seja inteligente, estratégico e planejado. Em pleno 2023, não basta só ter talento.

 

*Dani Faria é sócia da K2L Empresariamento Artiístico ao lado de Kamilla Fialho e está à frente do selo Urban Pop, que faz a ponte entre estúdios e outros artistas, auxiliando e direcionando a construção de imagem, repertório, marketing e imprensa. Na K2L, faz parte da gestão de carreira e planejamento de nomes como Rebecca, Valesca Popozuda, Lexa, TH, Kevin O Chris, TZ da Coronel e Bruna Griphao.

 

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