Documento internacional já tem mais de 26 mil assinaturas, entre elas as de Thom Yorke, Julianne Moore e Björn Ulvaeus (ABBA e Cisac)
Do Rio
A UBC acaba de se juntar a um manifesto internacional de criadores musicais, literários e de outras artes contra o uso de obras sem licença para treinar sistemas de IA generativa. Com mais de 26 mil assinaturas, o documento faz uma firme defesa do componente humano da criação artística e reúne nomes como o cantor e compositor Thom Yorke (líder do Radiohead), os atores Julianne Moore e Kevin Bacon, o romancista Kazuo Ishiguro (Nobel de Literatura em 2017) e o compositor Björn Ulvaeus, um dos fundadores do ABBA e, atualmente, presidente da Cisac - Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores.
Com uma única frase, o manifesto busca lançar uma mensagem simples e direta, que possa ser compreendida por todos e abraçada por todo aquele que se considere um defensor da arte:
"O uso não autorizado de obras criativas para o treinamento de IA generativa é uma ameaça grave e injusta aos meios de subsistência das pessoas por trás dessas obras e não deve ser permitido.”
Como se sabe, empresas como OpenAI (ChatGPT), Microsoft, Meta (Facebook/Instagram), Alphabet (Google), Sunio (“criação” musical robotizada), Amazon, Apple e várias outras estão no centro de ações judiciais e muita polêmica mundo afora. Muitas delas se aproveitaram das brechas legais nas legislações nacionais dos países onde operam para usar quantidades massivas de conteúdos protegidos por direitos autorais sem autorização prévia. A título de treinamento dos seus sistemas, acabam se aproveitando dos trabalhos humanos para, depois, poder gerar produtos que competirão com esses mesmos humanos.
No Brasil, além da UBC e, pessoalmente, do seu diretor-executivo, Marcelo Castello Branco, a Pro-Música Brasil e seu diretor Eduardo Rajo também aderiram ao manifesto.
Como noticiamos em setembro aqui no site, enquanto o mundo debate maneiras de dar algum controle aos criadores das obras varridas para treinar os sistemas de inteligência artificial generativa, um importante player do setor mostra claramente o que o conglomerado que dirige pensa do tema.
Em entrevista ao podcast Decoder, do site The Verge, Mark Zuckerberg, criador e diretor-executivo da Meta, sustentou que muitos compositores de música e outros criadores de conteúdos “sobrevalorizam” suas obras e que o valor destas está diretamente ligado ao seu consumo pelo público. Em outras palavras, canções sem sucesso comercial valeriam menos e não necessariamente deveriam gerar remuneração aos criadores ao ser usadas para treinar a IA.
“Se eles (criadores) exigirem que não usemos seus conteúdos, simplesmente não usaremos. Não é algo que vá mudar muito o resultado das coisas”, ainda completou Zuckerberg, alçado na última sexta-feira ao posto de segundo homem mais rico do mundo, sobre as exigências de transparência (na hora de revelar quais músicas foram usadas nos treinamentos dos sistemas), autorização prévia dos titulares de direitos e pagamento.
Uma opinião tão crua e mercantilista sobre a criação artística causou um pequeno terremoto no mercado. Uma das vozes mais engajadas no tema no Brasil, Bruna Campos, especialista em direito autoral e representante da UBC em Campo Grande, resumiu a polêmica:
“Eu vejo como uma piada. Ainda mais vinda de quem não deixa que ninguém dite o preço do produto que ele oferece. É impressionante como ainda temos que lidar com esse tipo de declaração numa época em que a criação intelectual se mostra cada vez mais importante no treinamento das máquinas.”
Diante de uma luta tão desigual entre, de um lado, os criadores humanos e, de outro, conglomerados de bilhões de dólares como a Meta, o manifesto quer lançar uma mensagem de unidade e resistência. Qualquer pessoa pode assiná-lo, e a UBC estimula você, associado, a também fazê-lo.
Para isso, basta acessar https://www.aitrainingstatement.org/ e preencher seu nome e profissão, deixando ainda um e-mail de contato.
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