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Compositores brasileiros no exterior: duas histórias
Publicado em 30/10/2024

Com número inédito de 5 milhões de brasileiros lá fora, os associados Arthus Fochi e Leo Middea contam suas experiências

Por Nathália Pandeló, do Rio

Leo Middea (à esquerda) e Arthus Fochi. Montagem sobre fotos de Novi Click e divulgação

Arthus Fochi decidiu ir embora durante a pandemia, um momento de grande incerteza global que, no Brasil, ganhava ares particularmente trágicos. Leo Middea foi ainda antes, há mais de sete anos, em busca de novas oportunidades para seu trabalho. Ambos compositores, músicos, cantores e associados da UBC, eles são dois retratos de uma comunidade brasileira em expansão e que, a considerar os números mais recentes do Ministério das Relações Exteriores e a taxa de expansão dos últimos anos, acaba de cruzar a linha dos 5 milhões de expatriados pela primeira vez na história.

A ida de tantos criadores musicais brasileiros lá para fora, tema de algumas reportagens nos canais informativos da UBC, poderia fazer pensar numa clássica fuga de cérebros. Mas a experiência de gente como Middea mostra que, na era digital e com a ajuda das redes sociais, manter um pé no mercado brasileiro, ao mesmo tempo em que gozam da segurança e das oportunidades oferecidas por outros países, é possível.

Maior acolhimento aos pequenos

“Por mais que eu faça um trabalho mais forte fora do Brasil do que dentro, estou sempre tentando explorar e navegar pelo mercado brasileiro, seja marcando presença em playlists editoriais ou indo ao Brasil com certa frequência. Morar no Brasil sendo um artista de pequeno/médio porte torna muito mais difícil criar uma independência financeira e se destacar, a menos que você tenha o apoio de alguém de dentro do próprio mercado musical”, pondera Middea, que, no primeiro trimestre, alcançou um grande marco ao se tornar o primeiro brasileiro finalista do Festival da Canção de Portugal, uma competição que quase o levou a representar o país ibérico no Eurovisão, o maior concurso de música da Europa.

Esse avanço o pôs em destaque no mercado português e gerou discussões sobre a representação de imigrantes brasileiros em competições culturais de outros países. Vítima de xenofobia e racismo na época do concurso, Middea hoje mora em Barcelona, na Espanha. E destaca que, apesar dos problemas, a receptividade ao novo que encontrou em alguns mercados europeus contrasta com as dificuldades que muitos artistas enfrentam no Brasil para conseguir espaço, especialmente em um ambiente tão saturado.

Fochi e as pontes

Como Middea, Fochi vive uma rotina de vida e criação na Europa — no caso, a Dinamarca —, mas com os olhos sempre postos no Brasil. A mudança durante a pandemia foi para proteger a esposa, grávida. Brasileira nascida naquele país nórdico, ela abriu as portas à família para se estabelecer num lugar estável e seguro. Atualmente, o músico e compositor cursa produção musical em Malmö, na Suécia, distante pouco mais de 40 quilômetros de Copenhague.

“Me lembra quando morava em Niterói e estudava no Rio, tem que cruzar a ponte todo dia”, compara.

Outra ponte, a que estabeleceu com artistas que moram no Brasil, ele mantém como pode. Atualmente, trabalha em dois álbuns de artistas nacionais, Lucas Bezerra e Almir Chiaratti. Mas, às vezes, o oceano entre eles atrapalha.

“Existe uma dificuldade inerente à distância. Pra mim, a música e a amizade sempre correram juntos. Mas aqui tenho mais tempo para estudar, os valores dos shows são melhores, e posso ter uma melhor organização financeira e do meu tempo”, afirma. “Não tem aqueles projetos espontâneos que nascem nos bastidores, ou numa noite de bar, aquela canja”, lamenta.

Arthus Fochi. Foto: Caro Petersen

No futuro, voltar?

Tanto Middea quanto Fochi relatam que estar longe do Brasil é menos glamouroso do que parece. E ambos pensam em voltar um dia.

“Claro. A América Latina é minha terra”, afirma Fochi, revelando que, embora esteja focado em construir uma vida em Copenhague no momento, sua identidade como artista latino-americano continua sendo central — e se manifesta no projeto Cantores del Mundo, um selo que ele dirige e que foi criado por Tita Parra, neta da lendária cantora e compositora chilena Violeta Parra. “Aqui tenho feito shows esporádicos em alguns festivais de jazz, ou em algum local interessante. Também tenho um grupo de forró (com um pé no jazz e improviso). Tocamos uma vez ao mês, tentando construir uma cena de forró na cidade”, explica.

Enquanto isso, Middea está vivendo o sonho de se apresentar em palcos europeus, inclusive abrirá um show de Marisa Monte em Paris no próximo dia 3. Mas o cantor e compositor também pensa em como seria voltar a se reconectar com o Brasil em um futuro próximo.

“Para estar mais perto da minha família e da minha cultura”, conta.

Para quem pensa em fazer o movimento de sair do Brasil em breve, os dois músicos recomendam cautela e estratégia.

“Planejem melhor do que eu”, sugere, bem-humorado, Arthus Fochi. “Converse com pessoas que são imigrantes nos lugares aonde desejam ir. As maiores fronteiras são as do medo. O mundo deveria ser de todos, e assim será”, avalia.

Leo Middea reforça a importância da preparação emocional:

“(É preciso) coragem e estar ciente de que a saudade será um sentimento constante. Estar aberto a se integrar à cultura local também é essencial.”

Middea nos bastidores do português Festival da Canção este ano. Foto: Novi Click

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