Edição 2025 do relatório Por Elas Que Fazem a Música traduz avanços e desafios para a inclusão feminina no mercado; confira os destaques
Do Rio
Oito anos depois que a UBC mergulhou ativamente na causa da inclusão de mais mulheres na criação musical, a edição 2025 do relatório Por Elas Que Fazem a Música mostra avanços contundentes — e um longo caminho ainda pela frente. Desde a primeira edição do estudo, que mede anualmente a presença delas e o impacto dos seus ganhos no conjunto dos associados, o total de filiadas deu um salto de 210%.
No último ano, elas se consolidaram como 17% dos associados UBC, um número muito aquém da paridade de gênero que buscamos, mas um salto de quase 30% em relação a 2018, quando elas eram 13% dos associados ativos, ou seja, aqueles com algum ganho de direito autoral. E o fato de que, em 2024, foram delas 20% das novas filiações aponta para uma redução gradual, mas esperançosa, na desigualdade.
Outro dado que dá uma boa ideia da renovação do perfil feminino na UBC — sugerindo uma tomada de consciência das mulheres sobre seu papel na indústria — diz respeito à faixa etária predominante das associadas. Nada menos que 60% delas têm entre 18 e 40 anos, sendo que as adultas jovens (18-30) são, individualmente, o grupo mais numeroso.
Mais um dado positivo deste relatório reflete uma distribuição menos desigual entre as regiões brasileiras. O Sudeste ainda tem um peso desproporcionalmente alto em relação à sua população: 60% do quadro geral. Mas, em 2018, a participação da região mais rica do país era ainda maior: 65%. Já o Norte triplicou sua participação, de 1% para 3%. Nordeste (16% do total das associadas) e Sul (11%) também foram regiões que apresentaram crescimento nestes oito anos (eram, respectivamente, 15% e 8% em 2018).
Por outro lado, a comparação dos ganhos delas com os dos homens escancara a necessidade de ações mais contundentes e estruturais por parte de todos os atores da indústria para reduzir a desigualdade de gênero. Por muito que as mulheres se filiem mais, elas estacionaram em 10% do total dos ganhos entre os associados — e especialistas nesta matéria de capa de 2023 da Revista UBC, sobre por que tantos intérpretes homens resistem a gravar músicas compostas por mulheres, lançam importantes pistas sobre o tema.
O fato de que, entre os 100 maiores arrecadadores, elas sejam 12 (contra 10 em 2018) mostra, talvez, uma leve melhora na visibilidade das mulheres entre os principais nomes do mainstream. Mas pouco diz sobre a enorme segregação que elas ainda sofrem no conjunto da indústria. E a análise da distribuição delas por categoria de profissional da criação musical deixa isso óbvio: ocupações tidas como reserva de mercado para os homens, como as de músicos acompanhantes, são as que contam com menos mulheres (só 5% do total). Já as versionistas (20% do total da categoria) e intérpretes (16%) são as que conseguiram reduzir um pouco mais o abismo entre os gêneros.
Numa pesquisa digital baseada em entrevistas, e inserida na edição 2025 do relatório, mulheres que têm filhos (33% das que responderam ao questionário) relataram outro tipo de “reserva de mercado” discriminatória que sofrem. Quase metade das mães afirma ter tido sua capacidade e sua dedicação questionadas por conta da maternidade.
“Indiretamente sofremos a ausência de convites para eventos e a inserção em grupos que pegam a estrada por acreditarem que não estamos disponíveis por ter filhos”, resumiu uma delas.
O relato de outra foi ainda mais forte:
“Quando passei na faculdade de regência orquestral, eu já tinha 31 anos, com uma filha de 7, e trabalhava como vendedora de uma loja de roupas. Um professor começou a questionar em público: ‘por que uma mulher vendedora de loja, e com filho, quer ser regente orquestral’? Me senti muito humilhada, porque era a melhor aluna, e pedi para sair da turma dele.”
Na mesma pesquisa, as mulheres responderam a perguntas sobre como atuam no mercado, e as compositoras, com 23%, tiveram grande destaque (confira abaixo os percentuais por ocupação).
Mas, sobretudo, as pessoas que responderam deixaram patentes as dificuldades e a discriminação que enfrentam no dia a dia simplesmente pelo fato de serem mulheres.
UBC DÁ O EXEMPLO
A UBC não apenas realiza o relatório — que, por si só, provoca discussão e contribui por mais visibilidade para o tema da diferença de gênero na indústria musical. Também promove ações efetivas por mais inclusão, como realizar jam sessions e um songcamp só para elas, valorizar o talento feminino em suas premiações (100% de mulheres entre os ganhadores do Troféu Tradições, por exemplo), levar constantemente o tema da inserção feminina a feiras e conferências de que participa e, não menos importante: ter um inquestionável protagonismo feminino de portas para dentro.
Desde 2023, nossa presidente é uma mulher, a cantora e compositora Paula Lima. Além disso, 61% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, incluindo todas as gerências de filiais (SP, BA, PE, MG, RS e GO). No quadro geral de funcionários, 57% são mulheres.
Mais do que mostrar números, a UBC sabe que pode e deve ajudar a mudar o cenário da desigualdade de gênero na música. Por isso, o apoio não fica só no discurso ou no mês de março. Ele acontece o ano todo e faz parte dos nossos valores.
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