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Por que Trump adiou o banimento do TikTok em mais 75 dias
Publicado em 09/04/2025

Líder americano preferiria que a Amazon comprasse a rede chinesa, mas as tarifas que ele impôs a Pequim melaram o negócio

Por Lucia Mota, de San Francisco (EUA)

Foto: Saulo Ferreira Angelo/Shutterstock

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria prorrogado por mais 75 dias a entrada em vigor do banimento do TikTok naquele país para tentar fechar um acordo envolvendo a compra da rede social pela Amazon. Uma nova estrutura societária já estaria definida — e, segundo fontes disseram ao jornal The New York Times, tudo teria sido aprovado pela ByteDance, a megacorporação chinesa dona do TikTok. Mas a imposição de pesadas tarifas por Trump aos produtos da China, a partir de quinta (3), e os sucessivos aumentos das alíquotas esta semana fizeram o pré-acordo desandar.

Desde a posse de Trump, os principais gigantes tecnológicos dos Estados Unidos têm demonstrado publicamente sua submissão ao incendiário presidente. Empresas como Meta (Facebook/Instagram), Alphabet (Google) e a própria Amazon têm cancelado ou desidratado seus programas internos de DEI (diversidade, equidade e inclusão), temas considerados “de esquerda” por Trump; e alguns estão atuando para alinhar fortemente suas empresas aos interesses do magnata e ex-apresentador de reality show convertido em líder do maior arsenal militar e nuclear do planeta.

Jeff Bezos, por exemplo, o dono da Amazon e também do jornal The Washington Post, determinou, ainda nas eleições do ano passado, que a tradição de décadas do diário de apoiar explicitamente uma candidatura em editorial fosse interrompida. Sabia que a redação do jornal, de maioria progressista, provavelmente apoiaria Joe Biden.

Mais recentemente, o Post vem sendo acusado de censurar charges e textos opinativos contrários a Trump. A operação liderada pela Amazon seria, portanto, vista com bons olhos pelo republicano.

MINUTA DO ACORDO EM CIRCULAÇÃO

A estrutura societária já estaria definida: menos de 20%, como manda a lei de banimento, ficariam com a ByteDance; 30% permaneceriam com os atuais investidores pulverizados; e pouco mais de 50% passariam a ser dos novos controladores estadunidenses.

Uma minuta do acordo chegou a circular, e tanto o jornal The New York Times como a agência Reuters tiveram acesso a ela. Não constava o nome da Amazon nem de qualquer outra empresa que seria responsável pelo controle do TikTok. Mas fontes do NYT afirmaram que a carta de intenções da empresa de Bezos é real e foi endereçada diretamente a JD Vance, vice-presidente dos EUA, e ao secretário de Comércio Howard Lutnick.

Outros players que, segundo a mídia especializada, teriam ainda chances de ficar com a mais popular rede social de vídeos curtos do mundo seriam a multinacional Oracle, os bilionários Frank McCourt e Jesse Tinsley, fundadores da empresa de folha de pagamento Employer.com; e a Zoop, uma startup liderada por Tim Stokely, o mesmo criador da plataforma de entretenimento adulto OnlyFans, entre outros.

“Nossa proposta pelo TikTok não é apenas para mudar a propriedade, mas sim criar um novo paradigma em que tanto os criadores quanto suas comunidades se beneficiem diretamente do valor que geram”, disse RJ Phillips, cofundador da Zoop, num comunicado público, admitindo claramente a proposta de compra.

Enquanto isso, o agressivo fundo de investimentos Blackstone também estaria em conversas com os acionistas não chineses da ByteDance, liderados pelo Susquehanna International Group e pela General Atlantic, para injetar capital adicional e apresentar uma proposta pelas operações americanas do TikTok.

Segundo agências internacionais, a Perplexity AI é outra corporação que apresentou uma proposta. A ideia seria criar uma nova entidade combinando suas operações com as do TikTok nos EUA, possibilitando uma participação governamental de até 50% após uma oferta pública avaliada em pelo menos US$ 300 bilhões.

Todas essas ofertas e as chances reais de cada uma são, claro, apenas especulações no momento.

NOVO PRAZO É 19 DE JUNHO

A Amazon já tinha tentado replicar o TikTok com seu próprio recurso de compras por vídeos curtos, chamado Inspire. No entanto, a funcionalidade no aplicativo foi descontinuada em fevereiro, pouco mais de um ano após seu lançamento. Esta seria uma das razões pelas quais a gigante que nasceu como empresa de distribuição de livros estaria tão interessada no aplicativo chinês.

Embora a Suprema Corte dos EUA tenha mantido a validade da lei no início deste ano, Trump, ao assumir o cargo, prorrogou o prazo para aplicação da medida até 5 de abril, após prometer repetidamente “salvar” o TikTok, que tem cerca de 170 milhões de usuários nos EUA — e onde ele próprio chegou à casa de milhões de seguidores durante as eleições. Com a prorrogação por mais 75 dias, o prazo final para a solução do imbróglio passa a ser 19 de junho.

“Minha administração tem trabalhado muito para fechar um acordo PARA SALVAR (sic) o TikTok, e fizemos um progresso tremendo”, disse Trump na sua própria rede social, a Truth Social, na sexta-feira (4). “O acordo exige mais trabalho para garantir que todas as aprovações necessárias sejam assinadas, por isso estou assinando uma Ordem Executiva para manter o TikTok funcionando por mais 75 dias.”

Numa comprovação de que o acordo foi suspenso por conta das tarifas de Trump — num total de 125% de sobretaxação, conforme anunciado nesta quarta (9) —, a Embaixada da China nos EUA se pronunciou sobre os dois temas:

“A prática dos EUA não está de acordo com as regras do comércio internacional, prejudica seriamente os direitos e interesses legítimos da China e representa uma prática unilateral típica de intimidação”, afirmou. “Sobre o TikTok, a China já declarou sua posição em diversas ocasiões. Sempre respeitamos e protegemos os direitos e interesses legítimos das empresas e nos opomos a práticas (como a venda forçada) que violam os princípios básicos da economia de mercado.”

A declaração é um balde de água fria para a administração Trump, que insiste que o acordo de venda já estava aprovado por Pequim.

EVENTUAIS CONSEQUÊNCIAS

Caso o banimento se consume — uma possibilidade que vários analistas internacionais dizem ser factível —, a perda para os titulares de direitos autorais de todo o planeta que têm suas canções executadas em bilhões de vídeos (mais de 34 milhões deles publicados a cada dia) seria da ordem de US$ 200 milhões por ano, metade dos US$ 400 milhões em royalties que os chineses pagam em todo o mundo, segundo estimativa do site Music Business Worldwide. A título de comparação, o Spotify, em 2023, pagou 22 vezes mais: US$ 9 bilhões. Nem por isso, a cifra deixa de ser desprezível.

“O mais importante é o impacto dessa eventual desaparição para a música de catálogo. Nenhum player global, atualmente, é tão relevante para as canções mais antigas do que o TikTok”, disse à UBC Dorian Lynskay, analista do mercado musical, que cita a febre planetária de redescobrimentos de hits antigos pela geração Z no TikTok. “Mesmo que o uso que se faça de músicas mais velhas ali seja utilitário, ou seja, como um dado engraçado ou corroborando uma certa mensagem que o vídeo quer transmitir, o fato é que esse app dá, como nenhum outro, uma nova vida a obras muitas vezes esquecidas. E os usuários americanos são essenciais para isso.”

 

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