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Por que músicos sofrem tanto de ansiedade e depressão?
Publicado em 13/05/2019

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Estudos no Reino Unido e na Suécia encontram alta prevalência desses problemas entre profissionais da área musical, expostos à instabilidade financeira e profissional, ao julgamento do público e à necessidade de “brilhar”

Por Alessandro Soler, de Madri

Ansiedade e depressão, dois problemas com alta prevalência na sociedade contemporânea — 9,3% e 5,8% no Brasil, respectivamente, segundo a OMS —, afetam ainda mais intensamente quem está, por definição, exposto ao julgamento alheio, à instabilidade profissional e financeira e a conceitos como sucesso e prestígio. Se você pensou em profissionais da música, fez uma associação correta. De acordo com um estudo da Universidade de Westminster realizado a pedido da entidade Help Musicians UK, do Reino Unido, 80% dos músicos e compositores sofrem estresse, ansiedade e depressão, e episódios depressivos afetam até três vezes mais a categoria do que a população em geral.

Na Suécia, segundo outro levantamento que acompanhou 1.500 músicos e foi levado a cabo pela plataforma de distribuição Record Union, 73% dos participantes demonstraram ter sofrido, em maior ou menor grau, algum episódio do gênero, com depressão e ansiedade no topo da lista.

Os resultados, que se repetem com maior ou menor similaridade em diferentes pesquisas mundo afora, levaram a principal entidade de gestão coletiva britânica, a PRS, a desenvolver um programa de saúde mental para profissionais da música em parceria com a Help Musicians UK. A iniciativa Music Minds Matter (a mente dos músicos importa, em tradução livre) dispõe até mesmo de uma linha telefônica 24 horas e oferece atenção de urgência a membros da cadeia musical que possam estar enfrentando episódios depressivos. Além disso, os associados da PRS contam com aconselhamento, terapias comportamentais cognitivas e ajuda emocional caso se sintam ansiosos e estressados.

“A ideia é indicar os tratamentos mais adequados aos associados e, se necessário, financiar essa ajuda. Nossa esperança é que o programa possa aportar aos nossos membros as ferramentas necessárias para seguir adiante”, afirma Pete Glenister, administrador da PRS Members' Fund, organização de assistência geral aos membros da PRS e responsável pelo Music Minds Matter.

Como reitera a PRS Members' Fund, a competitividade e a instabilidade (do sucesso, das receitas, das condições de trabalho) da indústria da música, bem como as diversas situações de estresse a que um profissional desse mundo está constantemente sujeito podem ser demais para qualquer um. O compositor, produtor, arranjador e instrumentista britânico Dan Marshall sabe disso. Usuário do programa, ele desenvolveu depressão enquanto sofria com uma má situação financeira. Para Marshall, uma palavra amiga pode ser salvadora. “Nem consigo descrever com palavras o que eu senti quando recebi o e-mail dizendo que a minha inscrição (no programa) tinha sido aceita e que eles poderiam me ajudar. É importante deixar o orgulho de lado e pedir ajuda”, ele recomenda.

O mesmo fez, no Brasil, um dos mais famosos padres cantores. Como já publicamos numa reportagem sobre o tema em 2017, o Padre Fábio de Mello, associado da UBC, teve uma forte crise de síndrome do pânico decorrente da sua carreira musical. A exposição, o turbilhão de apresentações para grandes plateias, as viagens, a pressão pelo sucesso e a necessidade de manter uma agenda de constante contato com pessoas não lhe fizeram bem. “Eu tinha sensação de morte, de que algo muito ruim estava acontecendo. Tinha medo de tudo, das pessoas... Estou medicado e vivendo um processo de superação diária. Cheguei a me esconder debaixo da cama e ficar uma semana sem sair de casa. Nunca chorei tanto”, contou o profissional, que, desde então, vem tratando os episódios com medicação e terapias cognitivas que o ajudaram a reencontrar o equilíbrio. 

O cantor e compositor Armandinho foi outro a admitir problemas graves com o álcool e a depressão em 2014; o cantor Lucas Lucco expôs longamente as angústias do seu quadro de depressão aos fãs, em redes sociais, em 2015; Paula Fernandes admitiu em 2012 que teve depressão no final da adolescência, quando começava sua caminhada por exposição e sucesso na carreira artística. Renato Russo, Vanusa, Mauricio Mattar, Chrigor (ex-vocalista do Exaltasamba): muitos artistas nacionais sofreram de um mal que, no exterior, afetou nomes como Bruce Springsteen, Michael Jackson, Sinéad O'Connor, Lady Gaga, Selena Gomez...

No Brasil, o Centro de Valorização da Vida, uma das mais respeitadas ONGs que atuam na ajuda emergencial para episódios de ansiedade e depressão, particularmente que derivem em tendências suicidas, tem uma linha direta. O telefone é 188 e funciona 24 horas. A entidade tem ainda formas de contato por e-mail, chat e até pessoalmente

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