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UBC abraça campanha Pague o Ingresso pela ajuda ao setor de shows
Publicado em 05/11/2021

Iniciativa pretende conscientizar os fãs sobre sua importância para a retomada

Do Rio 

A UBC lança a campanha Pague o Ingresso, uma proposta efetiva para ajudar o mercado de shows e eventos musicais neste início de retomada. Duramente impactado pelo confinamento — medida necessária para conter o avanço do coronavírus no momento mais duro da pandemia —, o setor precisará se amparar no valor dos ingressos pagos pelos fãs para garantir o sustento de inúmeros profissionais que vivem da música e das apresentações ao vivo. 

O foco principal da iniciativa é combater os pedidos de "entradas VIP" e também o uso mais ou menos disseminado de documentos falsos para obter meia-entrada. Com ajudas insuficientes, irregulares ou diretamente inexistentes por parte do governo, o setor de shows e eventos teve perdas que a Associação Brasileira de Promotores de Eventos estimou em mais de R$ 90 bilhões, do início da pandemia a abril deste ano — segundo o mais recente relatório do Ecad, os pagamentos de direitos autorais relativos ao segmento shows despencaram 75% em 2020.

"Pela minha experiência, o ingresso chega a responder, em média, por 50% do faturamento bruto de uma casa de shows de até 600 lugares, ou seja, com capacidades pequena e média. O ingresso é essencial para que você consiga contratar artistas que levam bom público à casa. A sustentabilidade de uma casa de shows está no ingresso. No mundo ideal, marcas deveriam patrocinar as casas e cobrir boa parte dos custos, mas isso acontece em menos de 1% dos estabelecimentos do Brasil", afirma Leo Feijó, especialista em políticas públicas culturais, professor do curso Música&Negócios, da PUC-Rio, e fundador de diversas casas de shows na cidade do Rio de Janeiro, como Casa da Matriz, Teatro Odisseia e Cinematheque.

A partir do que ele diz, pode-se concluir que a importância do ingresso é ainda maior para o mercado alternativo de shows — e, consequentemente, para os profissionais que militam nesse meio. Mas não só. José Fortes, empresário dos Paralamas do Sucesso, diz que o impacto da paralisia sobre a banda foi grande. "Todo mundo sofreu. Com as constantes mudanças do mercado, o setor fonográfico está em transição, e os shows representam grande parte da receita de qualquer artista. Acho a campanha muito pertinente. Muita gente tem uma percepção totalmente equivocada sobre o entretenimento: acha que é de graça, que não tem custo. Ninguém vai ao dentista e pede uma obturação de graça. Por que fazer isso num show?", indaga o empresário, que cita uma máxima atribuída à grande Cacilda Becker, mais atual do que nunca:

"Não me peça para dar de graça a única coisa que eu tenho para vender."

O associado Arthur Braganti é compositor, músico e membro permanente da banda que toca com a cantora e compositora Letrux. Ele, tão dependente dos shows para compor sua renda, conta ter sentido a crise fortemente.

"Os artistas independentes ganhamos dinheiro com shows, é um fato. E fomos impossibilitados de fazê-los. A ajuda do governo foi mínima e muito escassa. Então, há uma questão muito viva e urgente: é preciso salvar a cultura. O fã terá um papel ativo nesse processo, pagando o ingresso, sem deixar de cobrar fomento público e uma verdadeira política de Estado para a recuperação das indústrias criativas."

Para ele, é importante que as pessoas entendam tudo o que custa colocar um projeto musical sobre um palco, levando arte e entretenimento ao público: "Desde os pagamentos ao compositor da música, ao intérprete e aos músicos, passando por equipe técnica, valor da casa, figurino, cenários, equipamentos, instrumentos... Quanto mais bonito e completo for o show, mais gente estará empregada nele, recebendo, sustentando-se. Este é o momento de lutar contra uma ideia infelizmente difundida de que arte é algo supérfluo e que deve ser barata ou gratuita. Muita gente vive disso, a conscientização é urgente."

O cantor, compositor e idealizador do grupo Filarmônica de Pasárgada Marcelo Segreto vai na mesma linha: 

"A internet alterou radicalmente a maneira como produzimos e escutamos música. Porém, manter uma carreira musical permanece sendo tão difícil quanto no tempo pré-internet. Pois bem, é aí que entra a verdadeira transformação: a gente pode e deve apoiar os nossos cancionistas, por meio do ingresso ou de financiamentos diretos, e, com isso, ajudá-los a fazer o que adoramos que eles façam: música!"

Ciça Pereira é empreendedora, pesquisadora e diretora-executiva da Zeferina Produções, de São Paulo, e já geriu as carreiras de Luedji Luna, As Bahias e Coruja BC1, entre muitos outros artistas. Ela também avalia que é o mercado independente o mais impactado diretamente pelos ingressos: 

"É de extrema importância que o público se reeduque e apoie nossas classes produtivas comprando ingressos, divulgando os trabalhos e, sobretudo, entendendo que a arte também é reflexo de empregabilidade e garante a dignidade de muitas famílias."

Essa tomada de consciência, espera-se, ajudaria a reduzir a cultura dos pedidos de "entradas VIP". É o que prega Marcello Lobatto, sócio-diretor da Na Moral Produções, que agencia e vende shows de Planet Hemp, Marcelo D2, BK, Kell Smith e muitos outros grandes artistas:

"A campanha é ótima e deveria ser permanente. Precisamos de uma mudança de atitude. Muitos produtores acham que dá status ter a lista de VIPs cheia, gera repercussão. E muitos fãs pedem VIPs mesmo para ingressos que custam pouquíssimo, porque acham mais legal ir na lista VIP. A verdade é que, quando a pessoa pede ingresso, ela está dizendo ao artista: pague para mim os custos do porteiro, do segurança da casa de shows, do bilheteiro, do técnico de som..."

Ao relembrar sua experiência administrando casas de shows, Leo Feijó evoca a sensação de desânimo que tinha por vezes:

"Sofremos tanto com isso no passado. Muitas vezes, a bilheteria chegava a ter um terço de 'vips'. É insustentável. O público precisa adotar uma nova postura, mais consciente. E acredito que isso irá acontecer. As pessoas perceberam, na pandemia, o valor da música e dos artistas. Estou com esperança."

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