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Uma nova fórmula de pagamento no streaming é possível?
Publicado em 08/12/2017

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Francesa Deezer discute um método de cálculo de audição que dê maior peso ao consumo de cada usuário pago e, segundo alega, diminua as distorções

Por Alessandro Soler, do Rio

A necessidade de melhorar as remunerações aos criadores na era dos streamings vem ocupando uma posição central nos debates contemporâneos da indústria musical global. A expectativa de crescimentos ainda mais robustos do setor digital nos próximos anos — no mundo todo, segundo o último relatório global da Cisac, o salto foi de espantosos 51% só em 2016 —, joga luz sobre os métodos de pagamento praticados. Hoje, a maioria das plataformas usa uma fórmula de market share, ou divisão de mercado, baseada na partilha simples dos valores arrecadados com assinaturas (ou publicidade, no caso dos planos gratuitos) entre todos os streams. Grosso modo, isso beneficia os fenônemos pop com milhões de audições e reserva frações de centavos a músicas menos "bombadas", mesmo que elas sejam a eleição principal de um pequeno e fiel número de usuários. Como há muito se admite, a fórmula clássica de cálculo, baseada em relatórios gerais globais mês a mês (o que provoca flutuações costantes no valor pago por cada stream), pode gerar distorções.

Um dos problemas recentemente levantados é, como denunciou reportagem do portal G1 em outubro passado, o uso de robôs por artistas e gravadoras que buscam potencializar falsamente seus números de audições e, assim, tentar abiscoitar mais do bolo resultante da soma de todos os streams das principais plataformas. No Brasil e no exterior, há, segundo a investigação, até sites especializados em vender visualizações e audições, contribuindo para melhorar a posição do artista, por exemplo, nas playlists de tendências ou das mais tocadas. Num efeito manada, essas músicas vão atraindo cada vez mais a atenção dos usuários — e, mais importante, mais dinheiro.

Mas não é apenas essa situação extrema que se traduz em distorções. Como dissemos acima, o próprio consumo maciço de música pop por usuários mais jovens, de um modo superdiluído nas plataformas, torna certos artistas e faixas tão dominantes que acabam eclipsando alguns nomes às vezes proporcionalmente mais fielmente consumidos por assinantes mais velhos (que são menos numericamente).

Procurado, o sueco Spotify, maior serviço de streaming do mundo, com uma base de mais de 60 milhões de assinantes premium e faturamento anual de US$ 3 bilhões, não respondeu ao pedido de informação sobre eventuais discussões relacionadas a novas fórmulas de distribuição. Um de seus grandes competidores diretos, a francesa Deezer (9 milhões de usuários premium e faturamento de mais de US$ 300 milhões), contudo, dá um passo adiante e se diz prestes a estrear uma mudança de cálculo que sustenta ser mais justa. Mas, para isso, ela terá de convencer o mercado primeiro.

A ideia básica da Deezer, que vem sendo apresentada a grandes gravadoras e editoras, produtores e artistas há algumas semanas, é calcular os consumos de cada usuário. Se um usuário premium ouve, suponhamos, apenas três músicas num mês, 33% daquilo que cabe ser distribuído a partir do que ele pagou ajudariam a engrossar o bolo de cada uma das três faixas. Ou seja, o valor do stream passa a variar segundo o consumo dos usuários individualmente, e não em função do consumo global.

“O sistema atual era o possível há dez anos, quando surgiram as plataformas de streaming. Era impossível fazer relatórios por usuário. Música digital era ou pirataria, algo totalmente injusto para os criadores, ou a compra de descargas, algo, senão injusto, pelo menos inviável para os consumidores, por ser muito caro. Hoje, sim, temos tecnologia para calcular o consumo de cada usuário”, explica Henrique Leite, diretor do departamento da Deezer responsável pelas relações com gravadoras e editoras na América Latina. “O market share total vai ser substituído por esse market share que leva em conta a posição real de cada música entre os usuários premium. Se um assinante é fidelíssimo a uma só música e não escuta mais nenhuma, 100% vai para o market share daquela música.”

Lógica mais parecida com a antiga indústria

Ele sustenta que tendem a se beneficiar artistas locais de cada um dos mercados onde a fórmula for implementada, pois eles têm audição mais direta e fiel. “O impacto é bacana para todo mundo que tem atividade nas plataformas. Artistas que estão mais próximos dos fãs e que, portanto, estimulam a audição na plataforma, serão beneficiados. Mas outros, que têm uma presença mais passiva, talvez não. O catálogo local fica mais fortalecido. O catálogo internacional pode perder, porque chega de forma mais 'improdutiva', mais de cima para baixo, sem grande esforço. Esses podem cair.”

Segundo ele, a Deezer não descarta conversar com outros serviços de streaming para explicar sua ideia e tentar espalhar seu método. Mas essa não é a prioridade no momento. “Nosso foco principal é conversar com gravadoras, editoras, associações de autores e compositores e artistas. Queremos explicar que essa nova fórmula vai beneficiar a todos. Com o tempo, as outras (plataformas) virão atrás”, crê.

Ainda não há uma data estabelecida para a implantação da nova fórmula mundialmente, mas Leite adianta que o primeiro semestre de 2018 verá um grande mercado chave testando uma espécie de versão beta. “A lógica se aproxima muito mais do sistema antigo da indústria, no sentido da proximidade, do esforço de venda com resultado. Com mais esforço, seja no lançamento, seja na divulgação das faixas ou na proximidade com os fãs, o artista vai ser premiado”, conclui.


 

 



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