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Após 15 anos, Spotify aumenta preço de assinatura em mercados-chave
Publicado em 25/07/2023

Brasil está entre os territórios que sofrem reajuste; para analistas, subida beneficia tanto a indústria como titulares de direitos autorais

Por Ricardo Silva, de São Paulo 

Depois de muitos meses de pressão e expectativa, finalmente o Spotify anunciou que aumenta os preços das assinaturas premium em territórios-chave. Estados Unidos, França, Reino Unido, Brasil, México, Turquia, Indonésia, Tailândia, Austrália e Argentina, entre diversos outros países, já têm novos valores a partir desta terça-feira (25), com um período de carência até setembro para quem já é assinante. O aumento é simbólico porque a maior plataforma de streaming do mundo era a única que resistia aos apelos do mercado (preocupado pela sustentabilidade do negócio num cenário de inflação global), da indústria (interessada em aumentar seus lucros) e de titulares de direitos autorais (necessitados de um pagamento um pouco melhor).

Quem assina o plano básico da plataforma, agora, paga US$ 10,99 nos EUA, e não mais os US$ 9,99 que vinham sendo praticados há 15 anos. O plano duo vai de US$ 12,99 para US$ 14,99, e a assinatura familiar, de US$ 15,99 para US$ 16,99. 

No Brasil, a assinatura básica vai de R$ 19,90 para R$ 21,90, e o plano duo, de R$ 24,90 para R$ 27,90. Já o plano família se mantém nos mesmos R$ 34,90. 

As novas faixas equiparam os preços do Spotify aos dos seus principais competidores, como Apple Music e Amazon Music, que haviam reajustado seus planos, respectivamente, no quarto trimestre do ano passado e em janeiro deste ano. 

Contraintuitivamente, o mercado reagiu mal, e as ações do Spotify fecharam ontem em queda 6% na Bolsa de Nova York. Nesta terça, no pregão eletrônico, já se recuperam um pouco, com alta de quase 2%. O pé atrás dos investidores, no entanto, tem outro fator motivador: hoje está prevista a apresentação dos resultados financeiros do segundo trimestre, quando a empresa sueca de streaming deverá reportar o avanço das suas assinaturas, seus ganhos/perdas de abril a junho e a expectativa para os próximos meses. 

“Alguns preveem números piores, mas também há quem espere um prejuízo operacional menor e uma base de assinantes maior, com crescimento mais acelerado”, escreveu a analista Angela Palumbo, da agência Dow Jones. 

Em qualquer caso, só este ano os papéis da plataforma sueca já tiveram um crescimento espetacular de 107%.

No longo prazo, contudo, o Spotify parece estar na mesma encruzilhada que todas as outras plataformas que concorrem com o cada vez mais poderoso TikTok. O lançamento recente do app de streaming de áudio do TikTok no Brasil e na Indonésia mexe no tabuleiro do mercado, já que dá aos chineses a vantagem competitiva de concentrar todo o ecossistema musical em suas mãos: produção de conteúdo original (vídeos do TikTok), distribuição de novas músicas (TikTok Music), revitalização de catálogo antigo (vídeos do TikTok e TikTok Music), customização e viralização (vídeos do TikTok). Detalhe: o preço de entrada do TikTok Music é R$ 14,90. 

“O Spotify, depois de ter investido tudo e mais um pouco nos podcasts, está mudando de estratégia e apostando nos vídeos. Entendeu que o caminho percorrido pelo TikTok é o mais bem-sucedido. Em junho, os suecos demitiram 200 funcionários da área de podcasts. Aliás, eles têm cortado colaboradores em vários departamentos, tentando reduzir despesas e diminuir seu histórico prejuízo operacional. Algo que, a bem da verdade, já vêm conseguindo trimestre a trimestre", disse a analista financeira Elaine Brandão, especialista no mercado musical. 

Ela lembra que, pelo lado dos titulares de direitos autorais — compositores especificamente —, o aumento no preço da assinatura premium agora anunciado é benéfico. Algo corroborado por um estudo feito pelo pesquisador Emmanuel Legrand para o Gesac, o Grupo Europeu das Sociedades de Autores e Compositores.  De acordo com os cálculos de Legrand, a maior parte das receitas dos titulares de direitos no streaming vem de assinaturas premium, com as assinaturas gratuitas e seus anúncios gerando 10 vezes menos royalties.

O problema é que as assinaturas gratuitas ainda são muito mais numerosas, sobretudo em países em desenvolvimento. Isso, aliado à distorção histórica e contratual na distribuição — com as plataformas ficando com pelo menos 30% do dinheiro; as gravadoras, com outros 55%; e os autores tendo que dividir com as editoras os restantes 15% —, ajuda a explicar a baixa e estagnada remuneração aos compositores.

"(A subida dos preços) beneficia imediatamente autores e compositores, que provavelmente verão um aumento nas receitas à medida que o volume geral de usuários e as taxas de assinatura crescerem. Uma vez que a receita de streaming cresça, a divisão da receita alocada a autores, compositores e editores de música deve evoluir de maneira mais justa", ponderou Legrand. 

Nos próximos meses, mercado e titulares estarão de olho nos movimentos de assinantes do Spotify e das outras plataformas que fizeram os reajustes. Uma fuga poderia provocar um efeito oposto ao desejado: uma diminuição na receita que impactaria os ganhos dos titulares de direitos. Resta saber se a aceitação do novo preço pelos assinantes necessariamente se traduzirá em melhores pagamentos para quem faz música. O tempo dirá.

 

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