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Jota.pê: ‘Chegar lá sozinho não é chegar’
Publicado em 30/12/2024

Vencedor de 3 Grammys Latinos, ele descreve a injeção de ânimo que seu estouro deu aos colegas do início, lá em Osasco, e fala do futuro

De São Paulo

Jota.pê. Foto: Divulgação/Márilin Ferreira

Jota.pê. teve o 2024 dos sonhos de qualquer artista. Sonhos, inclusive, que ele nem sequer tinha sonhado. Fez show elogiado no Rock in Rio, lançou um disco — “Se o Meu Peito Fosse o Mundo” — que bateu ponto em 10 de 10 listas de melhores álbuns do ano, viajou a Portugal para gravar fado pela primeira vez com a talentosa Teresinha Landeiro e, não menos importante: saiu da última edição do Grammy Latino com simplesmente três gramofones dourados nas mãos: melhor álbum de MPB, melhor canção em português (“Ouro Marrom”) e melhor álbum de engenharia de produção.

Nada mal para o jovem de Osasco (SP) de 31 anos que, não muito tempo atrás, ainda cantava em bares da cidade e não teve as portas da indústria exatamente escancaradas para si. Precisou abri-las ele mesmo, à base de persistência, talento, uma MPB autoral de mil sotaques e influências e, como acontece com os melhores de um mercado altamente competitivo, à base também de alguma sorte.

“Acho que aquele rapaz não acreditaria no que está passando. Muita coisa que eu vivi eram sonhos, outras eu nem imaginava. Está sendo tudo muito intenso, eu mesmo ainda não absorvi totalmente nem acreditei. Conheci muitos dos meus ídolos, alguns me chamam para almoçar no WhatsApp, como o Emicida outro dia. Convidei o Chico César para cantar comigo, e ele foi. Isso tudo é muito louco para mim”, diz o artista, que embarcou na viagem mais importante da sua vida, a de criador e intérprete musical, depois de brilhar no talent show “The Voice Brasil”, da TV Globo, e esteve indicado também este ano em inúmeras categorias do Prêmio Multishow.

Neste papo de fim de ano, ele faz um balanço do que rolou, uma projeção do que vem e fala de sonhos.

 

Você esteve uns dias em Portugal este mês, não? Como foi a experiência? A gravação com Teresinha Landeiro foi seu primeiro fado?

JOTA.PÊ: Foi a viagem mais legal que eu fiz. Gravei com a Teresinha Landeiro e ainda fizemos o clipe de uma faixa que vai sair em breve. Mas sobretudo tive tempo. Encontrei Mayra Andrade, trocamos muita ideia, fomos ao show do Dieg, um artista contemporâneo dela de Cabo Verde. Participei do song camp do Dino D’Santiago na casa dele. Compus com ele, com a Soluna, com uma galera que estava lá. Saí para jantar com muita gente legal… Foi intenso. Nunca esperei gravar fado, um gênero que conheci há alguns anos com a Carminho. Achava lindo de ouvir, mas não pensei que pudesse. Foi uma experiência rica.

O que aquele rapaz de Osasco que tocava não muito tempo atrás em barzinhos diria para este artista que agora é internacional, viaja para parcerias com artistas de destaque e ganha vários troféus do Grammy Latino numa única edição?…

Eu brinco muito com isso. Acho que aquele rapaz não acreditaria no que está passando. Muita coisa que eu vivi eram sonhos, outras eu nem imaginava. Está sendo tudo muito intenso, eu mesmo ainda não absorvi totalmente nem acreditei. Conheci muitos dos meus ídolos, alguns me chamam para almoçar no WhatsApp, como o Emicida outro dia. Convidei o Chico César para cantar comigo, e ele foi. Isso tudo é muito louco para mim.

Existe um debate na indústria sobre a relevância dos grandes prêmios para impulsionar a carreira de um artista novo. O tema apareceu este ano na Revista UBC, inclusive. Você é um cara que pode, como poucos, nos responder em primeira pessoa: o que esses Grammys já trouxeram de novo? Que portas estão se abrindo por causa deles?

Uma coisa que eu já senti: simplesmente ter estado indicado ao Grammy Latino, ter ido até lá (Miami, EUA, para a cerimônia de entrega), em si, já foi muito legal. Antes de sair a premiação, muitos produtores latinos tinham gostado do disco, vieram falar comigo. Chegar lá permite fazer amizades, ter contato com muita gente… No mercado brasileiro, a princípio, eu achava que (as indicações e as premiações) iam fazer barulho, mas que não seria muito. Está sendo algo fora de série. Meus amigos já me disseram: ganhar um Grammy faz a diferença. Mas três…

Eu já tenho show marcado para setembro de 2025! Muita coisa mudou. Muito convite para fazer show. Muito artista me chamando, dando parabéns… Recebi áudios de artistas de quem sou muito fã, do público, de estrelas como Juliana Paes ou Paolla Oliveira (risos). No Instagram, foram 50 mil pessoas a mais me seguindo em poucos dias depois dos prêmios… Claro que sinto que portas se abriram.

Houve por lá alguma troca legal com artistas hispânicos? Porque sempre se diz que há uma barreira invisível entre o Brasil e os demais países latinos…

Rolou, sim, sinceramente. A barreira é muito mais da gente com eles, não o contrário. Com exceção da música que chega dos EUA, a gente não ouve mais nada. Já os caras ouvem Djavan, conhecem coisas. O mundo ouve a música brasileira, que é respeitada. Mas a gente só ouve as próprias coisas ou o que vem dos EUA. Infelizmente. Conheci o Jorge Drexler, vou cantar com ele no Uruguai em 7 de janeiro. Depois, já em Portugal, como eu disse, conheci a Mayra Andrade, o Dino… Acho que a visibilidade que um prêmio assim traz é, sim, muito grande.

O talento é evidente. O trabalho e o suor que o disco transparecem também. Mas tem sorte também nessa fórmula aí do sucesso? Você se considera um cara de sorte?

Eu usei essa frase ontem, parece frase de coach, mas existe um tipo de sorte que acontece quando a preparação encontra a oportunidade. Tem gente foda que é mais talentosa e merecedora até, mas que faltou ter o encontro com a oportunidade. Muita gente foi abrindo pequenas portas para mim, que me ajudaram, e isso é claro que é sorte: “Vem gravar aqui no meu estúdio, a gente vê que você é sério e gosta de música, depois falamos de dinheiro”; “Por que não faz parceria com essa pessoa?”… Coisas assim. Kabé Pinheiro e Marcelo Mariano eu cito como dois músicos que me ajudaram muito. Mas muita gente me ajudou a tirar de mim o meu melhor.

Outros da geração que começou com vocês nos bares tiveram chances similares?

Dessa galera que começou comigo e com quem convivi desde o começo, alguns desistiram, outros desistiram e voltaram, alguns ainda tentam sair do barzinho, e alguns estão de fato levantando uma carreira profissional. É uma corrida de obstáculos, um mercado difícil. A esse lugar de estar concorrendo a Grammy, e apesar de eu achar que eles merecem, não chegaram ainda. Mas agora me dizem: “A gente acha que dá.” Todo mundo está mais animado. E isso faz valer demais todo esse corre. Chegar lá sozinho não é chegar. Quem acha que sim está enganado. É muito bacana ver o movimento gerado à minha volta.

Em novembro, com os troféus do Grammy Latino em mãos. Foto: Academia Latina da Gravação

Falando de inspiração, como é o seu processo típico de composição?

Não tem regra. No “Se Meu Peito Fosse o Mundo”, eu já comecei a pesquisar e compor muito antes, tinha em mente que lançaria um disco assim agora este ano. Para o próximo álbum, minha ideia é compor muito e juntar mais gente para feats. Não devo lançar um disco inteiro de inéditas ano que vem. Vai primeiro rolar o ao vivo do show que estamos fazendo. Mas disco novo, completamente novo, só em 2026. Depois da loucura do Grammy, não consegui compor tanto. Mas estou animado. Agora no fim do ano o farei, com certeza.

E como decide sobre as parcerias?

Eu uso muito o coração para escolher feats ou convites. Agora vamos tentar mirar em sonhos, artistas como Mayra Andrade, Dino. Não vou ficar citando nomes porque depois não rola, e fica chato (risos). Mas o Lenine, que foi assistir ao meu show, eu sonho em gravar um dia com ele. Sem prazo definido. Também quero muito poder lançar som com Djavan, Emicida, gente que eu amo.

Estes são seus sonhos imediatos?

Percebo agora que meus objetivos estão muito mais ligados diretamente à música… A gente não fez um disco para ganhar Grammy. Fez para gostar de ouvir quando ficasse pronto no final. Eu ouvi muito e ainda ouço que sou “uma grande promessa”. Uma das coisas que tenho como objetivo é deixar de ser promessa, que seja um: “Ele já está aí” (risos). Me soa como dúvida o lance da promessa, e eu quero sair desse lugar da incerteza e me sentir tranquilo no mercado. E, se isso der mais prêmios, der um Grammy americano, maravilhoso. Emicida estava me zoando ontem. Cheguei na casa dele, e ele disse “Jota, você acredita em igualdade?”. Eu: “Claro!”. E ele: “Então, me dá um dos Grammys que você ganhou. E vamos ficar os dois com dois cada (risos).” É sensacional escutar algo assim.

Não é uma pressão forte demais, ao mesmo tempo? Uma vez que você conseguiu a estrelinha, que o seu desenho foi parar na porta da geladeira, não dá uma ansiedade grande para não sair mais de lá?

Paulo Monte (produtor e A&R) disse: “Acho que você vai ter tempo de acertar e errar, lançar grandes discos, discos medíocres…”. E é isso: é pesado demais me colocar a pressão de ter que ser genial, só porque ganhei prêmios. Às vezes, vou fazer algo muito reflexivo, cheio de ideias. Às vezes vou colocar quatro acordes, e pronto. Quero fazer música pela música. Se for reconhecido, ótimo. Uma coisa que pegou muito para mim foi: o disco foi lançado em março. Até virem os Grammys, muita gente não estava dando bola. É muito importante ter isso em mente.

E o direito autoral? Tem sentido um aumento considerável na arrecadação já?

Preciso fazer esse elogio à UBC, porque desde que entrei as coisas ficaram mais organizadas e melhores. Lembro do telefonema da Vanessa Schütt (do departamento de Novos Negócios), e ela me convenceu ali na hora, na conversa. Eu tenho gostado muito. À medida que minha carreira cresce, os números aumentam. Não caiu ainda a TV que fiz nos últimos meses, teve muita rádio também. Daqui a pouco esse dinheiro chega.

 

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