Fortemente amparada na divulgação de novas cenas e novos artistas da música, a Trace Brasil ganha programa no Multishow e inserções na Globoplay, além de já ter canal próprio de TV
Do Rio
Uma plataforma global dedicada à cultura urbana de raiz africana elegeu o Brasil como uma das suas principais bases de expansão. Surgida na França pelas mãos de Olivier Lauchez, um empreendedor com experiência no setor audiovisual e musical no departamento ultramarino francês da Martinica e na Europa, a Trace acaba de iniciar uma parceria com a Globo para emitir conteúdos pela plataforma Globoplay e pelo canal Multishow (programa Trace Trends), somando-se assim ao canal de TV próprio (Trace Brazuca), já na grade da Claro/NET e da Vivo TV.
A divulgação da música produzida nas periferias, com destaque para novos artistas/coletivos e novas cenas, é o pilar fundamental da plataforma.
“A música é a raiz, o DNA, da Trace. No nosso canal, 90% da grade são dedicados a ela. Nas inserções para a Globoplay e o Multishow também haverá uma grande presença de talentos musicais. O Brasil é uma máquina de criação. A gente pode e quer contribuir muito para identificar qualidade, promovê-la, produzi-la e curá-la”, diz Zizo Papa, CEO da Trace Brasil e responsável pela implementação do projeto no país, depois de liderar o festival publicitário de Cannes e a consultoria de inovação e tendências americana WSGN.
Zizo (à esquerda) ao lado do cofundador da Trace, Olivier Lauchez
Além da música, gastronomia, comportamento, artes plásticas e visuais, dança e outras manifestações ilustram os conteúdos. O eixo central da atuação da Trace Brasil é a matriz africana da cultura produzida nas periferias. Mas não só. “Dentro da periferia, temos nordestinos, indígenas, jovens brancos excluídos... Essas pessoas vão falar através do rap, do hip hop, vão ganhar um canal para se expressar”, define Ad Júnior, head de marketing da Trace Brasil.
Papa completa: “Nas periferias estão os maiores desafios sociais. Então, é vital uma plataforma de mídia que empodere a cultura afrourbana. A gente trouxe algo muito pioneiro em representatividade e reflexão, colocando no centro da cena a maior parte da população brasileira, vítima de um racismo estrutural desde sempre. O Brasil foi o maior importador de escravos e ainda tem uma dívida enorme a pagar.”
Todas as canções executadas na programação, tanto da Globo como do Multishow, já recolhem execução pública, através dos acordos celebrados entre essas emissoras e o Ecad. Isso significa que os titulares filiados a sociedades de gestão coletiva que tiverem suas músicas tocadas receberão os devidos valores.
Em outra vertente de atuação, a Trace Brasil deve trazer uma iniciativa já lançada na África do Sul, um dos cerca de 180 territórios onde a plataforma global atual. Trata-se da Trace Academy, um portal de cursos online gratuitos para jovens em busca de qualificação ou requalificação profissional. À base de parcerias com entidades como Google e Banco Mundial, além de grandes empresas como Leroy Merlin, entre outras, os conteúdos são dedicados a marketing digital, economia e formação para eletricistas, entre diversos temas mais. Novos cursos, em português, deverão ser produzidos por aqui para a estreia da versão brasileira.
O head de marketing da Trace, Ad Júnior
“Estamos 40 anos atrasados em relação, por exemplo, aos Estados Unidos, onde desde os anos 70 floresceram movimentos potentes que ajudaram a criar uma classe média negra. É uma necessidade, não há mais tempo a perder. A pandemia, que golpeou tão duramente a periferia, e o novo movimento global que se seguiu ao assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, deram novo gás a uma reivindicação justa e que cresce exponencialmente”, conclui Papa.
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