Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

Streaming: 3 plataformas, 3 fórmulas diferentes para aumentar receitas
Publicado em 01/03/2023

Enquanto a árabe Anghami aprofunda aposta na inteligência artificial, Deezer vai extinguindo assinatura grátis, e Spotify mira nos NFTs

De Madri

As enormes oscilações nos preços das ações das principais plataformas de streaming de áudio, nos últimos meses, deixam claro que o mercado vê com desconfianças a sustentabilidade do negócio. E os balanços recém-divulgados de empresas como Spotify ou Deezer, por exemplo, corroboram a corda bamba sobre a qual se move esse segmento: se, por um lado, os números de assinantes e o próprio faturamento crescem, por outro as plataformas operam sistematicamente no vermelho, ante uma receita ainda insuficiente para pagar suas despesas e remunerar seus acionistas.

Esta semana, três notícias divulgadas nos meios especializados mostram que diferentes plataformas têm investido em fórmulas próprias para tentar reverter esse quadro e aumentar seu caixa. A efetividade dos caminhos escolhidos por cada uma ainda está por ver. 

ANGHAMI: inteligência artificial para substituir criadores humanos

Potência no mundo árabe, com alegados 73 milhões de ouvintes (1,28 milhões de assinantes premium) sobretudo no Oriente Médio, na Europa e nos Estados Unidos, a Anghami, nascida em 2011 no Líbano, mas há anos sediada nos Emirados Árabes, dobra sua aposta na inteligência artificial. Como noticiamos em dezembro aqui no site, a empresa lançou 170 mil músicas criadas automaticamente a partir de uns poucos samples, com vozes artificiais e em diferentes gêneros, para animar os torcedores durante a Copa do Mundo do Catar. 

Depois, anunciou que pretende criar outras 200 mil canções geradas por computador, sem interferência criativa humana. A ideia óbvia por trás disso é fugir do pagamento de direitos autorais, tornando barata a distribuição de enormes quantidades de conteúdos “personalizados”, já que os ouvintes, em alguns casos, podem participar do processo de “customização” das faixas. 

É só um exemplo em grande escala, e à luz do dia, de uma prática que, segundo fontes do mercado, vem se disseminando pouco a pouco inclusive no Ocidente: a de plataformas que se tornam titulares das canções que distribuem, afim de pagar menos royalties aos criadores reais. 

Em dezembro, numa carta aberta aos seus mais de 8 mil funcionários, o CEO da Universal Music, Lucian Grainge, criticou o que chamou de presença cada vez maior de faixas de 30 segundos sem copyright oferecidas em playlists de apps como o Spotify. Supostamente, essas músicas seriam de titularidade da própria plataforma e, ao ser repetidamente tocadas, alterariam o bolo de distribuição de direitos autorais, mantendo no caixa da plataforma quantidades significativas de dinheiro. 

Grainge mencionou ainda a prática de algumas plataformas de privilegiar, em suas playlists editoriais ou através de algoritmos, determinadas faixas que “são menos caras para a plataforma licenciar ou, em alguns casos, são encomendadas diretamente pela plataforma.”

No caso da Anghami, até mesmo o conceito de “encomendar” cairia por terra. O investimento milionário da empresa na parceria com a plataforma de criação por inteligência artificial Mubert teria como finalidade eliminar o “caro” componente humano, inundando seu catálogo de cerca de 50 milhões de músicas com faixas criadas por robôs. Uma hipótese que ganha força quando conhecemos, esta semana, a informação de que a plataforma está sendo processada pela editora PopArabia, também dos Emirados Árabes, e pela empresa de gestão musical Reservoir, dos Estados Unidos, por supostamente distribuir obras musicais reais, com suas respectivas letras, sem pagar pelas devidas licenças. A Anghami nega. 

O último balanço da plataforma, divulgado em novembro passado e contemplando o terceiro trimestre de 2022, mostrou um aumento de receitas de 27% em apenas três meses, para US$ 31,7 milhões. A Anghami alega operar no azul e diz ter tido um salto de 13% no seus lucros no trimestre, sem revelar, contudo, as cifras exatas em dólares.

DEEZER: fim progressivo dos planos free

O mesmo não se pode dizer de Spotify e Deezer, duas empresas ocidentais cujos balanços mostram prejuízos operacionais consecutivos. Enquanto a gigante e maior do mercado, de origem sueca, revelou em seu último balanço trimestral (Q4 de 2022) receitas totais de € 3,2 bilhões e crescimentos substantivos nos ouvintes mensais (para 489 milhões) e nos assinantes premium (para 205 milhões), o volumoso prejuízo operacional de € 231 milhões ainda preocupa. Já a francesa Deezer, que tem no Brasil um dos seus principais mercados, teve um salto de mais de 10% nas suas receitas em 2022 (para € 451,2 milhões), mas viu aumentar seu buraco operacional de € 120,6 milhões para € 166,7 milhões em um ano. 

A resposta dos franceses já está clara: apostar mais forte no fim das assinaturas freemium, privilegiando as receitas diretas dos assinantes premium, em vez da publicidade gerada pelo modelo gratuito. Iniciada pela anterior diretora do conselho administrativo, Amanda Cameron (que pediu demissão da Deezer nesta terça, 28 de fevereiro), essa política deverá continuar sob o novo diretor, Stu Bergen, executivo com décadas de experiência no mercado musical e oriundo da Warner Music Group. No Brasil, a Deezer ainda continua a oferecer a modalidade gratuita de assinaturas.

Ao ir eliminando pouco a pouco as assinaturas freemium, a Deezer tenta, paralelamente, reforçar suas assinaturas B2B, ou seja, aquelas vinculadas a outros negócios — como, no Brasil, por exemplo, a parceira que a plataforma tem com a Tim, e que permite a assinantes pós-pago da teleco desfrutar do streaming da Deezer de maneira automática. 

Já no campo da relação direta com assinantes orgânicos, a plataforma francesa foi uma das primeiras a dar um passo que a indústria musical vem pedindo há tempos: aumentar o preço das assinaturas, congelado há mais de dez anos nos mercados mais maduros do planeta. 

Agora, os assinantes do Reino Unido pagam £ 11,99; os da União Europeia pagam € 10,99, e os dos Estados Unidos, US$ 10,99 — apesar de que, em todos os casos, há descontos para quem optar por planos anuais. O Spotify, que, por ser a maior, é a referência das outras plataformas em suas políticas de preços, mantém os mesmos £ 9,99, € 9,99 e US$ 9,99, sem uma sinalização de mudança por ora.

SPOTIFY: NFTs e outras novas tecnologias

O tiro dos suecos para aumentar suas receitas vai em outra direção: a diversificação da oferta de experiências e itens colecionáveis aos fãs dos artistas que compõem seus catálogos. Na última segunda-feira (27), o Spotify e a banda virtual criada pela Universal Music Group KINGSHIP (formada por avatares e vozes eletrônicas) anunciaram uma parceria para utilizar NFTs em playlists exclusivas do grupo. 

As playlists requerem tokens (códigos de acesso) que podem ser obtidos com a aquisição de NFTs da banda. Por ora, só estão habilitadas para usuários que utilizam o sistema Android e nos seguintes territórios: Alemanha, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia e Reino Unido.

Trata-se de um projeto piloto, mas, segundo o diário Financial Times, os investimentos do Spotify na tecnologia são milionários e incluíram a contratação de uma grande equipe de profissionais já treinados na chamada Web3, nome que vem sendo dado ao próximo salto da rede mundial que permitirá interconexão a altíssima velocidade, potencializando transações baseadas em tecnologia blockchain, o metaverso e outras formas de realidade aumentada e virtual, além da internet das coisas. 

Se as contratações de profissionais altamente especializados em áreas como Web3 e inteligência artificial é uma realidade, o mesmo não se pode dizer dos demais cargos das plataformas de streaming. Embora todas elas difiram nas estratégias para conseguir novas receitas, em um ponto elas coincidem: nas demissões. A Anghami, por exemplo, anunciou em novembro passado um plano para cortar 22% de sua força de trabalho. Já o Spotify, que em outubro de 2022 havia demitido cerca de 38 profissionais especializados em podcasts, em janeiro tornou público seu plano de enxugar o quadro total de funcionários em 6%.

LEIA MAIS: Artigo: Precisamos falar sobre o streaming, por Carlos Mills

LEIA MAIS: Manifesto global contra manipulação de streams ganha força

LEIA MAIS: Fraudes, fazenda de cliques, falsas autorias: problemas no streaming


 

 



Voltar