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Spotify reivindica papel de pilar da indústria e comenta fraudes e pagamentos
Publicado em 30/06/2025

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UBC participou de encontro com Carolina Alzuguir, diretora de música da plataforma no Brasil, no qual ela falou sobre desafios do streaming

Por Isabela Yu, de São Paulo

No início dos anos 2000, época em que Carolina Alzuguir, diretora de música do Spotify, dava os primeiros passos no mercado de trabalho, ela se deparou com uma indústria em ruínas por conta da pirataria. Ao acompanhar de perto a ascensão do streaming – antes na Sony e, há sete anos, dentro da plataforma sueca –, a executiva acredita que vivemos um novo ápice.

“Quando comecei na Sony, os meus chefes falavam dos tempos áureos das gravadoras, algo que sempre sonhei em viver – e hoje estamos vivendo. Vemos o gráfico subindo e a indústria voltando a girar dinheiro", afirmou Carolina Alzuguir na semana passada, em evento da plataforma para jornalistas, no qual comentou temas espinhosos como os baixos pagamentos do streaming e as fraudes que se multiplicam, entre as quais o jabá que ela admitiu claramente que existe em playlists privadas (não geridas pela plataforma).

Sobretudo, a representante do Spotify reivindicou o papel central da maior plataforma de streaming de áudio do planeta na reconstrução do mercado pós-crise da pirataria. Para isso, Carolina usou dados do último relatório Loud & Clear, publicado pela empresa desde 2021 para reafirmar seu compromisso com a transparência. De acordo com a pesquisa realizada pelo Spotify, a empresa pagou US$ 10 bilhões (R$ 54,8 bilhões) ano passado em todo o mundo, alcançando um novo recorde no mercado da música digital. Desde 2014, o Spotify sustenta ter distribuído mundialmente US$ 60 bilhões (R$ 329 bilhões) em royalties.

O levantamento equipara a cifra aos áureos tempos das mídias físicas (CDs e LPs) pré-pirataria. Segundo o Loud & Clear, os US$ 10 bilhões de 2024 representam o maior pagamento da história da indústria da música, superando qualquer valor já pago por outras empresas e sendo “10 vezes maior” que a contribuição das lojas de discos no auge do CD.

Pode não ser bem assim, e é difícil chegar às cifras exatas, dada a fragmentação das fontes e as profundas diferenças entre o mercado atual e a era de ouro da indústria. De acordo com o site de informações estatísticas Statista, somente nos EUA a venda de CDs gerou US$ 23,7 bilhões em 1999, com uma parte significativa ficando com os produtores fonográficos (gravadoras), editoras, intérpretes e compositores. Blockbusters como “Thriller” (1982), de Michael Jackson, e a trilha sonora do filme "Grease" (1978) mantêm-se como recordistas, com milhares de cópias vendidas, sugerindo distribuições robustas de royalties. Segundo a revista New Yorker, nenhum disco lançado após o ano 2000 alcançou essa marca.

UMA CONTA COMPLEXA

Como é feito o cálculo de rendimento no streaming? Diferentemente de outras plataformas, como o YouTube, em que o usuário pode fazer o upload do próprio conteúdo, o Spotify usa intermediários para a publicação da música. Logo, a remuneração não será feita diretamente ao artista: dois terços dos rendimentos vão para os representantes – editoras, gravadoras e distribuidoras digitais, que, então, distribuem os valores a compositores, intérpretes e outros participantes.

O número varia a cada mês, por conta da flutuação de caixa, na qual são somados os valores da assinatura premium, da publicidade da versão gratuita e dos anúncios dentro do aplicativo. Em seguida, esses valores entram em um fundo, do qual cada artista recebe uma fatia proporcional à porcentagem de streams daquele mês.

O crescimento do montante pago em royalties se conecta ao aumento no número de usuários. Há 268 milhões de assinantes pagos, sendo que 60% deles testaram a plataforma na versão gratuita, que hoje reúne 678 milhões de usuários ativos. Ainda que os números sejam altos, a principal crítica – de que a remuneração é baixa para os artistas – não deve ser resolvida tão cedo. A grosso modo, o que acontece é que há muita oferta para poucos pagantes, além de o valor ser dividido com os intermediários e com todas as pessoas envolvidas na criação de uma obra.

“O streaming democratizou a música e os pagamentos, mas trouxe mais complexidade. Vemos novos artistas disponibilizando suas obras e atingindo novos fãs, mas isso também torna as coisas mais difíceis. Como se destacar no oceano de 100 milhões de músicas (presentes no catálogo da plataforma)? Trabalhamos para encontrar novas maneiras para isso acontecer", afirma a diretora de música.

O mercado brasileiro atingiu R$ 3,486 bilhões no ano passado, crescendo 21,7% em relação a 2023, afirma o mais recente relatório anual da Pro-Música, a entidade que congrega a indústria fonográfica nacional. Dentro dessa fatia, as plataformas de streaming representam 87,6% das receitas.

E, no Brasil, o Spotify paga proporcionalmente mais aos compositores do que nos Estados Unidos. É que lá, como o site da UBC vem mostrando em repetidas reportagens, a plataforma usou um subterfúgio previsto na normativa do streaming para reclassificar os planos de música como “pacotes de serviços” com a inclusão de audiolivros. Assim, caiu notavelmente o percentual destinado aos compositores das canções.

O caso foi parar na Justiça, opondo a plataforma à MLC, ou Mechanical Licensing Collective, uma entidade criada pela Lei de Modernização da Música de 2018, e que atua desde 2021 centralizando as licenças do streaming em nome das sociedades de gestão coletiva. A Justiça deu razão ao Spotify.

Segundo Carolina — que frisou não ser a responsável pelo setor de audiolivros e podcasts no Brasil —, não existem planos por aqui para uma reclassificação do serviço como pacote. 

ANTIGOS DESAFIOS, NOVOS FORMATOS

O ambiente digital carrega em si obstáculos para ambas as partes – seja para os artistas ou para as empresas. Um dos exemplos recentes é a acusação feita por uma série de compositores do sertanejo a artistas do arrocha, que estariam usando suas obras sem autorização. Antes disso, as montagens (ou MTGs) do universo do funk foram alvos de denúncias semelhantes. O que acontece na prática: regravações são publicadas sem a notificação dos autores, que, por sua vez, não recebem os valores de reprodução.

Dentro da plataforma, a equipe de Content Infringement (violação de conteúdo) monitora os casos e derruba a faixa assim que recebe a reclamação.

“Cada vez mais artistas estão produzindo em uma velocidade insana. Muitas vezes, recebemos documentos falsificados para a publicação. Se alguma das partes não liberar o uso, o conteúdo fica inativo. O Spotify está aprimorando esse sistema e tentando acelerar a análise de infrações, o que é um desafio para a gente”, diz Carolina.

Trocando o pneu com o carro em movimento, a plataforma aperta a regulamentação conforme surge a necessidade, além de aplicar multas às distribuidoras e gravadoras. Cerca de 1% do total de reproduções são artificiais, com bots programados para inflar o número de streams.

“Isso é um problema da indústria, que precisa ser endereçado por todos os envolvidos", afirma a executiva.

A cada ano, a empresa investe esforços em criar punições para práticas que violam o código de conduta – a retenção de royalties é uma delas, pois o pagamento será referente apenas aos streams orgânicos. As consequências são monetárias, mas esse tipo de prática prejudica a cadeia como um todo.

Para além da suposta vista grossa do aplicativo, a diretora de música aponta a necessidade de gravadoras e representantes se envolverem na questão: se o mercado deve ou não dar espaço aos artistas que "jogam sujo" no digital. Lê-se aqui investir em streams ou seguidores artificiais, pagamento de jabás – neste caso, a inclusão em playlists populares –, entre outros tipos de fraudes comuns.

“Existe uma equipe responsável pelo monitoramento desses streams – seja de bots, seja de compra de espaço em playlists (jabá). Existem mecanismos automáticos de identificação de comportamento anormal de uma faixa, quando ela não segue um padrão. Há coisas gritantes que são identificadas automaticamente, mas outras são analisadas manualmente", explica a diretora de música do Spotify. 

 

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