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6 dicas para ajudar você a montar sua turnê internacional
Publicado em 08/07/2025

Especialistas mostram como usar dados, logística e redes sociais ao seu favor, em meio a um cenário complexo para os shows

Por Alessandro Soler, de Madri

Foto: Melinda Nagy/Shutterstock

No pós-pandemia, foi uma explosão: o forte desejo de encontro presencial levou à proliferação acelerada — para muitos, exagerada — dos grandes e pequenos shows, das turnês, dos festivais. Passado aquele momento emocional, e com o mercado mais assentado, continua a ser um desejo de muitos artistas sair por aí, levar seu projeto a outros lugares, outros países.

Mas o mundo das turnês vem mostrando sinais aparentemente contraditórios entre si. Por um lado, um estudo publicado em maio pela empresa de análises Chartmetric revelou uma queda acentuada no número de artistas do midstream e do mainstream viajando com seus shows ano passado, na comparação com 2022 e 2024: reduções de até 40%. Por outro, a edição 2025 do relatório “Music in The Air”, divulgada em junho pelo banco de investimentos Goldman Sachs, previu que, em 2030, o setor de música ao vivo (com receitas anuais estimadas US$ 65 bilhões) será significativamente maior que os setores de gravação (US$ 55 bilhões) e edição musical (US$ 19 bilhões).

A razão do Sachs para antecipar um novo boom é sólida: shows simplesmente trazem mais receitas que o streaming, um segmento que há anos debate — sem respostas satisfatórias — como pagar mais a intérpretes, músicos e compositores.

Seja de olho em maiores ganhos ou na ancestral necessidade de espalhar sua música por onde puderem, os artistas (principalmente independentes e do midstream) que querem se lançar à estrada fora do país nem sempre sabem por onde começar. Para ajudá-los na tarefa, reunimos dicas de seis especialistas, a cantora e compositora Catto, o produtor de shows Francisco Carvalho e os executivos Luis Lencioni (Sympla), Carolina Alzuguir (Spotify Brasil), Odilon Borges (Atabaque) e Carolina Moreira (TikTok Brasil).

 

1 - Vamos aos dados

Esta dica é unânime. A análise dos (muitos) dados fornecidos por plataformas de streaming e redes sociais é o primeiro passo recomendado por todos. Ferramentas como Spotify Para Artistas e, mais recentemente, TikTok Para Artistas, além das métricas do Instagram, trazem informação rica: quem (gênero, idade) interage mais com suas publicações e escuta suas canções, de onde é essa pessoa, quanto tempo consome o seu trabalho. E mais: quais gêneros musicais fazem mais sentido numa determinada localidade, quais não têm público...

“(Dados) ajudam muito (o artista) a entender quem são seus fãs, o que eles gostam de ver e ouvir, além de permitir uma conexão de forma mais direta com esse público”, resume Carolina Moreira, líder de relacionamento com artistas no TikTok Brasil.

Carolina Alzuguir, diretora de música do Spotify, citou, em entrevista recente à UBC, o caso do MC Livinho, que acaba de estourar na Turquia com o hit de 2019 “Vidrado em Você”. Ele soube pelo Spotify Para Artistas que a música estava tendo um insólito pico de audições por lá. Direcionou todo o seu marketing para espalhar mais obras suas nesse país. Desde então, até show já fez por lá a convite do principal time de futebol do país, o Galatasaray.

A próxima grande fronteira dessas métricas será a integração entre números de consumo de músicas no streaming e números de vendas de ingressos de shows. Segundo Luis Lencioni, head de Novos Negócios e Parcerias da Sympla, a ponte já está sendo construída.

“As grandes plataformas, Spotify e outras, estão fazendo um trabalho de integração com as tiqueteiras. O TikTok já vende ingresso lá fora. A tendência é que esses universos paralelos vão se encontrar eventualmente, e a inteligência servirá para tudo: vender ingresso, merchandising etc.”, antecipa.

2 - Pesquise o mercado local

Os dados revelaram que você tem um inesperado público, digamos, na Espanha? Hora de fazer uma pesquisa mínima sobre esse mercado. Por exemplo, que casas de shows têm o porte ideal para o público que você tem por lá?

“Estou trabalhando agora na produção do show de 30 anos de “Da Lama ao Caos”, que a Nação Zumbi vai trazer aqui para Madri em 24 de julho. No Brasil, a Nação faz grandes casas de shows, faz festivais. Aqui, apesar da trajetória gigante da banda, de ela ser responsável por uma revolução, eles não têm essa dimensão. Saber o seu tamanho é o primeiro passo para bookar bem”, diz Francisco Carvalho, produtor brasileiro radicado na capital espanhola, onde tem sido responsável por apresentações memoráveis de artistas como Alceu Valença, Letrux, Catto e Bala Desejo.

Procurar rádios, blogs e divulgadores locais também é recomendável.

“O ideal é que o artista possa furar a bolha da diáspora brasileira e atrair o público local. E isso só é possível se houver um trabalho de divulgação prévio”, afirma Carvalho, que recomenda em alguns casos — sobretudo em etapas mais importantes da turnê — contratar o trabalho pontual de um assessor de imprensa, cujo preço pode ser mais que razoável diante do retorno de público potencial.

Outro que recomenda o uso de divulgadores locais é Odilon Borges, cofundador da empresa de marketing e gestão de carreiras musicais Atabaque:

“Pode fazer sentido contratar um influenciador local de porte médio para promover sua música. Chegar sem nunca ter sido falado não ajuda muito. Agora, é interessante entender as características do lugar, mas sempre mantendo a tua identidade e o que te faz especial. Isso cria um sentido de experiência única, de escassez e diferenciação.”

3 - Adeque seu projeto ao tamanho ideal

Quem não sonha em viajar com a banda completa e fazer aquele showzão com toda a concepção estética original? Nem sempre, claro, será possível. Depois de analisar o tamanho do seu potencial de público no mercado para onde vai viajar, é hora de redimensionar o projeto.

“Se a artista puder viajar com um trabalho mais individualizado, com voz e violão ou voz e programação, num esquema meio ‘one-woman show’ (show de uma só mulher), isso faz com que tu tenhas mais flexibilidade. Tem muito espaço pequeno para show intimista. Festivais e casas maiores demandam um planejamento maior, mais estrutura. Vai depender, claro, do estágio de carreira de cada artista”, avalia a cantora e compositora gaúcha Catto, que voltará à Espanha em outubro, novamente com produção local de Francisco Carvalho.

Outra opção é contratar músicos localmente. Embora essa simples ideia possa provocar algum temor num artista que já está habituado à sua própria banda, o resultado pode surpreender positivamente.

“Vejo acontecer muito”, afirma Carvalho. “Praticamente não há país na Europa que não tenha músicos brasileiros, e bons, estabelecidos. Podem ser um caminho mais fácil para entender a pegada do artista que está vindo sozinho.”

4 - Planeje detalhes mínimos para economizar

De voos em horários alternativos ao uso de certas cidades que são hubs (centros de conexão aérea), dá para economizar bastante na hora de planejar os deslocamentos. Entender a malha de transporte local (existem trens? São de alta velocidade? Dá para dormir neles? É possível levar instrumentos?) também é fundamental para planejar a logística e economizar com hotel.

“O ideal é que o percurso da turnê tenha uma lógica, que o artista não esteja indo para lá e voltando para cá a toda hora, o que sempre aumenta os gastos”, aconselha Carvalho.

Ele menciona ainda outras coisas práticas às quais muita gente não presta atenção:

“Ter comunicação durante a turnê é vital. Existem cartões SIM que funcionam num continente inteiro ou até no mundo todo. Comprar um deles é legal para evitar usar o cartão brasileiro e pagar roaming. Outra coisa: é bom sempre ter algo de dinheiro em espécie para o caso de imprevistos. Aqui na Espanha houve um grande apagão há uns meses, não dava para usar cartão de crédito. Procure fazer esse câmbio com antecedência e pouco a pouco, para pegar boas taxas.”

5 - Gere dinheiro localmente

Há duas maneiras de fazer isso: levando merchandising do Brasil e aproveitando os cenários incríveis por onde passará para criar conteúdo monetizável para redes sociais.

“Recomendo sempre que possível trazer merchandising. A Letrux, quando veio, trouxe seus livros e muito merchan. E ainda trouxe a maquininha do banco dela do Brasil, uma boa maneira de fazer vendas aqui recebendo através do Pix e do cartão de crédito brasileiro, sem o IOF da compra internacional. O show é uma experiência, e noto que as pessoas sempre compram camiseta, caneca, vinil. É importante capitalizar durante a turnê, ter dinheiro fora dos cachês”, raciocina Francisco Carvalho, que lembra algo importante: em shows de pequeno e médio porte, é comum que não haja cachê fixo, e que o artista receba apenas a participação nas vendas de ingressos.

A produção de conteúdos nas paradas da turnê deve ser o norte antes mesmo de sair do Brasil.

“Fazer um clipe, rodar um visualizer, usas as locações maravilhosas e tão diferentes entre si não só ajuda a economizar com a produção da parte audiovisual do seu projeto; também ajuda a monetizar nas redes”, afirma Odilon Borges. “Colocar três roupas diferentes por dia, fazer vídeos e subir às redes cansa? Cansa. Mas é necessário. Pense na sua viagem não só como turnê, mas como uma grande viagem de conteúdo. Vai conseguir entregar um montão de materiais aos seus fãs ao longo de meses gastando só uma vez e ainda tocando em cada parada!”

6 - Não perca oportunidades de aumentar sua rede

Esta dica, na verdade, deveria vir antes de todas as outras. Um artista que tem aspiração a uma carreira internacional deve estar sempre antenado a todas as oportunidades de ampliar sua rede.

Ir a feiras de música, por exemplo, é um passo vital. Midem (Cannes, França), South By Southwest (também conhecida como SXSW, no Texas, EUA), BAFIM (Buenos Aires, Argentina) e muitas outras têm um esquema estruturado de inscrições para novos artistas em seus sites. Não foi selecionado? Sem problema: reserve seu voo, vá até lá mesmo assim, compre seu ingresso e circule como participante. As chances de networking são múltiplas e muito ricas. Shows também ocorrem de maneira espontânea em diferentes espaços das feiras e/ou das cidades que as acolhem. Um palco, um banquinho e um violão podem ser tudo de que você precisa para mostrar do que é capaz.

Participar de festivais é outro ótimo caminho para conhecer bookers locais, divulgadores e outras bandas. Um artista com uma pegada semelhante à sua pode ser o melhor “patrocinador” do seu projeto na cidade dele, convidando você a, por exemplo, abrir o seu próximo show.

“A cada turnê a gente vai vendo quais são as possibilidades, quais os encontros que se dão, sempre atenta. A Ana Paula (Veríssimo), minha empresária, e eu trabalhamos sempre com parcerias locais. O trabalho de música independente é feito de encontros”, ensina Catto, cuja volta à Espanha em outubro será a convite da prefeitura, para shows no reconhecido espaço cultural Matadero, tudo após ter tido uma apresentação bem-sucedida no Orgulho LGBTQIA+ da cidade há uns anos, costurando relações locais.

Colocar seu nome em plataformas de artistas que buscam ativamente oportunidades de mercado também é uma opção.

“A gente acaba de lançar a Sympla Showbiz, uma ferramenta que traz uma seleção de artistas parceiros que os produtores podem consultar para contratar. A ideia foi reunir ali a disponibilidade de data do artista, as condições de contratação etc., para facilitar mesmo, não há muitos canais para esse tipo de busca e negociação. O foco é o midstream, é o independente, segmento responsável pela grande maioria dos 57 mil eventos que a gente tem à venda atualmente no Brasil. Essa fatia é a que vai sustentar a expansão do mercado de shows nos próximos anos”, prevê Luis Lencioni.

Ele conta que a ferramenta está aberta a novos artista que quiserem participar, mediante uma curadoria prévia feita pelo time da Sympla.

 

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